terça-feira, 5 de setembro de 2017

Concurso de cantadeiras do Porto

Em 1949, duas entidades juntaram-se para realizar o concurso da rainha das cantadeiras do fado das freguesias do Porto: Portuense Rádio Clube e Jornal de Notícias. O objetivo principal era encontrar novos valores musicais para a rádio e o teatro. Publicitado em agosto, o concurso terminaria em novembro, com a vitória de Maria Rosa Rodrigues, de Ramalde, que teve uma curta carreira profissional e editou alguns discos com a etiqueta Alvorada, da Rádio Triunfo (Porto).

A notícia do Jornal de Notícias de 5 de setembro de 1949 (faz hoje 68 anos) dá conta de 400 jovens já inscritas, prontas a ensaiar, de segunda a sexta-feira nos horários 18:00-20:00 e 21:30-24:00, no salão da estação, à avenida Rodrigues de Freitas, para afinarem tons de voz e se adaptarem a público, além da gravação de discos. A etapa seguinte seria a das eliminatórias, inicialmente previstas para decorrerem em palcos de coletividades locais, levando Portuense Rádio Clube microfones para transmissão em programas de rádio. O espetáculo final decorreu no Coliseu do Porto. Uma notícia falaria em três mil espectadores. Os dois principais prémios eram uma máquina de costura (Oliva) e um recetor de rádio (Philips). Tudo isto implicou uma grande logística e o esforço de muitas pessoas, dos músicos aos ensaiadores. O homem da ideia foi João Pereira de Lima, presidente da estação de rádio e proprietário da tabacaria Tivoli, onde também se vendia lotaria, na praça da Liberdade, 33, Porto (hoje, ocupado parcialmente pela farmácia Vitália, quase na esquina com o Largo dos Lóios). Domingos Vieira, mais conhecido por Domingos Parker, seria o realizador por detrás do evento, repetindo o feito nos concursos seguintes de 1952 e 1955, agora ao serviço de duas outras estações de rádio portuense (Rádio Clube do Norte e Ideal Rádio).

Portuense Rádio Clube teve condições para ser uma grande estação. Fundada em 1937, foi a centralizadora no período inicial da II Guerra Mundial (todas as estações locais usavam a sua antena para emissão, pagando um valor pela sua utilização) e tinha uma frequência própria (ao contrário das outras estações portuenses, agrupadas no começo da década de 1950 nos Emissores do Norte Reunidos). Era uma estação e um clube. Durante a semana, funcionava como espaço de convívio. Aos fins-de-semana, havia bailes.

Mas a estação teve azares e erros de estratégia. Por exemplo, comprou um emissor, que chegou avariado ao Porto. Tal levou a nova encomenda, que não chegou a tempo do legalmente imposto e a licença de emissão foi cassada. A posição majestática e inflexível dos CTT, entidade que passava as autorizações de emissão à época, levou ao desaparecimento da estação, mesmo que as forças políticas do Porto lutassem pela manutenção da rádio. Em 1954, o terreno no Monte da Virgem (Gaia) para instalar o novo emissor foi vendido à Emissora Nacional, que o usou para emitir FM e ainda em onda média. Os seus principais animadores como Júlio Guimarães, Domingos Parker e Carlos Silva saíam para outras estações, o mesmo acontecendo a programas emblemáticos (A Voz dos Ridículos) e espetáculos (Parada da Alegria, no velho Palácio de Cristal, desaparecido em finais de 1951).

Sobre o concurso das cantadeiras, espero escrever com mais profundidade um dia.




1 comentário:

cz9 disse...

O programa "Visita Guiada" (RTP2) de ontem foi dedicado ao museu de Música Mecânica. Leonor Losa foi uma das convidadas.