No dia 1 de março, pelas 15:30, na Universidade Católica Portuguesa, realiza-se um debate a partir da edição do livro Ética Aplicada Comunicação Social, coordenado por Maria do Céu Patrão Neves e Rui Sampaio da Silva (2017).
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Museu de telefones de José Valle
José Valle nasceu em 1939 e é engenheiro de máquinas e eletrotecnia. Entrou nos TLP em 1967 e pré-reformou-se na PT em 1997. De entre as funções profissionais que desempenhou, foi director da rede exterior da área de Lisboa (Conservação), director-geral da Tele-Larm e administrador delegado da CST – Companhia Santomense de Telecomunicações, de São Tomé e Príncipe.
Desde cedo, a sua paixão pelo colecionismo de telefones e aparelhos ligados à atividade levaram-no a procurar um local onde expusesse e desse uma sequência histórica à coleção. Em abril de 2015, abriu um espaço na Verdizela (Seixal). O sítio da internet é Museu dos Telefones de José Valle e o email é jose.valle@sapo.pt. A coleção de telefones de José Valle pode ser visitada mediante marcação prévia de dia e hora para a sua realização. Se a visita for em grupo, este não deverá ter mais de oito elementos por questões logísticas.
Coloquei um conjunto de vídeos que seguem a visita feita. No último vídeo, mais longo, o engº Valle explica de modo pedagógico a evolução dos telefones e das centrais telefónicas. Por favor, comentem esta mensagem e partilhem os vídeos. O trabalho individual deste antigo profissional das telecomunicações deve ser muito acarinhado e divulgado. Além do valor patrimonial, existe um enorme valor simbólico de uma atividade (uma indústria).
Coloquei um conjunto de vídeos que seguem a visita feita. No último vídeo, mais longo, o engº Valle explica de modo pedagógico a evolução dos telefones e das centrais telefónicas. Por favor, comentem esta mensagem e partilhem os vídeos. O trabalho individual deste antigo profissional das telecomunicações deve ser muito acarinhado e divulgado. Além do valor patrimonial, existe um enorme valor simbólico de uma atividade (uma indústria).
sábado, 17 de fevereiro de 2018
Da medalha da UCP e da biblioteca
Fiquei muito emocionado na cerimónia de ontem da entrega de diplomas com a atribuição da medalha UCP que me foi feita. Muito obrigado à Universidade Católica Portuguesa (imagens de Rita Curvelo , UCP e Patrícia Cardoso).
Na cerimónia, era para ler um texto sobre a biblioteca, que não cheguei a fazê-lo, devido à emoção. Fica aqui abaixo:
A biblioteca é o espaço que alberga livros, memória do conhecimento das culturas, com posições, muitas vezes, complementares ou contraditórias. Se a pudéssemos ouvir, a biblioteca seria um conjunto de múltiplas vozes. Num dos seus mais famosos romances, Umberto Eco escreveu sobre o diálogo estabelecido entre livros numa biblioteca. Os livros citam outros livros que, por sua vez, identificam mais livros, num circuito quase infinito de transmissão e interpretação.
Na Grécia do século VI a. C., a biblioteca substituíra funcionários específicos que executavam um trabalho para a sociedade não letrada, a perseveração oral de regras e os precedentes e a cronologia do passado, os memorizadores, como escreveu Eric Havelock (1996). Já para Harold Innis (1964), pai da escola canadiana da comunicação, o nosso conhecimento das outras civilizações depende muito do carácter dos media ali usados. Innis dividiu os meios de comunicação em leves e pesados. Os media leves, como papiro e papel, representam civilizações alargadas no espaço, ao passo que os media pesados como catedrais ou palácios – a que ele alcandorou ao estatuto de elementos de comunicação – significam civilizações que se estendem no tempo. O resultado é: cada meio de comunicação utiliza um tipo de escrita e, por sua vez, produz um tipo de monopólio do conhecimento. Innis não se terá debruçado sobre a biblioteca, que é, a meu ver, simultaneamente um meio pesado e alargado no tempo (edifício) e leve e que chega espacialmente muito longe (armazena livros).
Da história das bibliotecas lembro as antigas, como a de Alexandria, no Egito, com 700 mil volumes manuscritos em rolo de papiro e que ardeu. Parte do que se perdeu tinha sido, entretanto, traduzido; tal conhecimento chegou muito depois ao ocidente europeu. Também sabemos que, atualmente, a biblioteca do Congresso dos Estados Unidos é a maior do mundo. Da minha experiência, a sala de leitura geral da Biblioteca Nacional, ao Campo Grande, com a tapeçaria de Guilherme Camarinha ao fundo, é um local agradável para ler. E recordo a biblioteca joanina da Universidade de Coimbra, pelo espetacular dispositivo barroco de livros e prateleiras.
À biblioteca junto o arquivo. Tenho a Torre do Tombo como exemplo, onde se podem consultar documentos de instituições, ministérios e dirigentes políticos. O arquivo é do domínio das fontes primárias, de documentos privados e públicos, escritos com fins objetivos. A biblioteca é o espaço de fontes secundárias, de livros que, muitos deles, resultam da leitura e interpretação de arquivos. Com regularidade, a biblioteca tem a extensão de arquivo. Menciono a biblioteca e o arquivo fotográfico da Cinemateca e o arquivo musical da Biblioteca Nacional, com este a congregar arquivos de compositores ou artistas, doados por familiares ou associações. A nossa Biblioteca João Paulo II domicilia, por exemplo, o Centro de Documentação Europeia e arquivos pessoais (Cardeal Cerejeira, Ruy Cinatti, outros).
O arquivo é o depoimento ou testemunho (escutado, oral), escreveu Ricoeur (2012). Este autor enfatiza o testemunho como memória declarada, que entra no domínio do documento, tornado parte do arquivamento (lido, consultado). Ricoeur vai mais longe: como tudo o que está escrito, um documento na biblioteca ou no arquivo está disponível a quem o quer ler. Não há um destinatário preciso, diferentemente do testemunho oral, dirigido a um interlocutor específico. Sempre, ou quase sempre, o documento é lido fora do contexto original, funcionando como intrusão.
Ricoeur não analisou o doador de livros. O que eu fiz, ao criar núcleos de jornalismo e media, estudos de televisão e teorias da comunicação e colocar na coleção da nossa biblioteca, indica linhas de orientação e pesquisa. A opção de aquisição de cada volume em particular resultou de leituras e de aconselhamento de novas leituras, como se fosse construindo um mapa de produção do conhecimento, desenhado de modo inconsciente. Repete-se a ideia de circuito permanente de transmissão e interpretação. O investimento feito corresponde ainda ao conceito de Pierre Bourdieu: a aquisição de capital simbólico e cultural.
Deixo a pista tecnológica da desmaterialização. No arquivo sonoro da RTP, além de discos de vinil, há documentos sonoros em DAT (fita magnética digital) e formato mp3, o que obriga a manter diferentes reprodutores tecnológicos para leitura. A Biblioteca Nacional guarda jornais em papel e microfilme, a Hemeroteca Municipal tem-se esforçado por digitalizar documentos como revistas e os tornar públicos.
Concluo com uma distinção subjetiva entre arquivo e biblioteca. O arquivo resulta de documentos elaborados mas também de trocas epistolares sobre viagens e visitas e escritos mais comuns como pedidos, petições e postais de aniversário. A biblioteca possui livros escritos por quem refletiu após leituras e confronto de ideias. Tal indicia a biblioteca como espaço de sabedoria. Daí o meu conselho: visitar a biblioteca e descobrir o que de importante ela tem para nos revelar. Muito obrigado.
Na cerimónia, era para ler um texto sobre a biblioteca, que não cheguei a fazê-lo, devido à emoção. Fica aqui abaixo:
A biblioteca é o espaço que alberga livros, memória do conhecimento das culturas, com posições, muitas vezes, complementares ou contraditórias. Se a pudéssemos ouvir, a biblioteca seria um conjunto de múltiplas vozes. Num dos seus mais famosos romances, Umberto Eco escreveu sobre o diálogo estabelecido entre livros numa biblioteca. Os livros citam outros livros que, por sua vez, identificam mais livros, num circuito quase infinito de transmissão e interpretação.
Na Grécia do século VI a. C., a biblioteca substituíra funcionários específicos que executavam um trabalho para a sociedade não letrada, a perseveração oral de regras e os precedentes e a cronologia do passado, os memorizadores, como escreveu Eric Havelock (1996). Já para Harold Innis (1964), pai da escola canadiana da comunicação, o nosso conhecimento das outras civilizações depende muito do carácter dos media ali usados. Innis dividiu os meios de comunicação em leves e pesados. Os media leves, como papiro e papel, representam civilizações alargadas no espaço, ao passo que os media pesados como catedrais ou palácios – a que ele alcandorou ao estatuto de elementos de comunicação – significam civilizações que se estendem no tempo. O resultado é: cada meio de comunicação utiliza um tipo de escrita e, por sua vez, produz um tipo de monopólio do conhecimento. Innis não se terá debruçado sobre a biblioteca, que é, a meu ver, simultaneamente um meio pesado e alargado no tempo (edifício) e leve e que chega espacialmente muito longe (armazena livros).
Da história das bibliotecas lembro as antigas, como a de Alexandria, no Egito, com 700 mil volumes manuscritos em rolo de papiro e que ardeu. Parte do que se perdeu tinha sido, entretanto, traduzido; tal conhecimento chegou muito depois ao ocidente europeu. Também sabemos que, atualmente, a biblioteca do Congresso dos Estados Unidos é a maior do mundo. Da minha experiência, a sala de leitura geral da Biblioteca Nacional, ao Campo Grande, com a tapeçaria de Guilherme Camarinha ao fundo, é um local agradável para ler. E recordo a biblioteca joanina da Universidade de Coimbra, pelo espetacular dispositivo barroco de livros e prateleiras.
À biblioteca junto o arquivo. Tenho a Torre do Tombo como exemplo, onde se podem consultar documentos de instituições, ministérios e dirigentes políticos. O arquivo é do domínio das fontes primárias, de documentos privados e públicos, escritos com fins objetivos. A biblioteca é o espaço de fontes secundárias, de livros que, muitos deles, resultam da leitura e interpretação de arquivos. Com regularidade, a biblioteca tem a extensão de arquivo. Menciono a biblioteca e o arquivo fotográfico da Cinemateca e o arquivo musical da Biblioteca Nacional, com este a congregar arquivos de compositores ou artistas, doados por familiares ou associações. A nossa Biblioteca João Paulo II domicilia, por exemplo, o Centro de Documentação Europeia e arquivos pessoais (Cardeal Cerejeira, Ruy Cinatti, outros).
O arquivo é o depoimento ou testemunho (escutado, oral), escreveu Ricoeur (2012). Este autor enfatiza o testemunho como memória declarada, que entra no domínio do documento, tornado parte do arquivamento (lido, consultado). Ricoeur vai mais longe: como tudo o que está escrito, um documento na biblioteca ou no arquivo está disponível a quem o quer ler. Não há um destinatário preciso, diferentemente do testemunho oral, dirigido a um interlocutor específico. Sempre, ou quase sempre, o documento é lido fora do contexto original, funcionando como intrusão.
Ricoeur não analisou o doador de livros. O que eu fiz, ao criar núcleos de jornalismo e media, estudos de televisão e teorias da comunicação e colocar na coleção da nossa biblioteca, indica linhas de orientação e pesquisa. A opção de aquisição de cada volume em particular resultou de leituras e de aconselhamento de novas leituras, como se fosse construindo um mapa de produção do conhecimento, desenhado de modo inconsciente. Repete-se a ideia de circuito permanente de transmissão e interpretação. O investimento feito corresponde ainda ao conceito de Pierre Bourdieu: a aquisição de capital simbólico e cultural.
Deixo a pista tecnológica da desmaterialização. No arquivo sonoro da RTP, além de discos de vinil, há documentos sonoros em DAT (fita magnética digital) e formato mp3, o que obriga a manter diferentes reprodutores tecnológicos para leitura. A Biblioteca Nacional guarda jornais em papel e microfilme, a Hemeroteca Municipal tem-se esforçado por digitalizar documentos como revistas e os tornar públicos.
Concluo com uma distinção subjetiva entre arquivo e biblioteca. O arquivo resulta de documentos elaborados mas também de trocas epistolares sobre viagens e visitas e escritos mais comuns como pedidos, petições e postais de aniversário. A biblioteca possui livros escritos por quem refletiu após leituras e confronto de ideias. Tal indicia a biblioteca como espaço de sabedoria. Daí o meu conselho: visitar a biblioteca e descobrir o que de importante ela tem para nos revelar. Muito obrigado.
Azurara e Emissora Nacional
Azurara (na fronteira com Árvore, outra freguesia do concelho de Vila do Conde) [imagem de 2017].
A instalação das antenas de Azurara (Vila do Conde) tornaria mais audível a emissão da Emissora Nacional e posto irradiador da voz do norte (Comércio do Porto, 24 de setembro de 1954) [em anexo, notícia publicada no Jornal de Notícias, 24 de setembro de 1954]. Até aí, ouvir rádio no Porto partia do emissor situado no Palácio de Cristal, no local onde fica hoje a biblioteca Almeida Garrett. O desaparecimento das estações de ondas médias da RDP provocou a perda de utilidade dessas antenas.
A instalação das antenas de Azurara (Vila do Conde) tornaria mais audível a emissão da Emissora Nacional e posto irradiador da voz do norte (Comércio do Porto, 24 de setembro de 1954) [em anexo, notícia publicada no Jornal de Notícias, 24 de setembro de 1954]. Até aí, ouvir rádio no Porto partia do emissor situado no Palácio de Cristal, no local onde fica hoje a biblioteca Almeida Garrett. O desaparecimento das estações de ondas médias da RDP provocou a perda de utilidade dessas antenas.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Rogério Leal (1916-1980)
Rogério Seixas Costa Leal foi uma figura eminente da rádio no Porto, conforme se lê no obituário publicado no Jornal de Notícias, de 18 de janeiro de 1980. Emissora Nacional, Emissores do Norte Reunidos e Rádio Renascença tiveram a sua intervenção. Além da editora discográfica Rádio Triunfo.
domingo, 11 de fevereiro de 2018
A rádio em João Lourenço
Em entrevista ao "Observador", João Lourenço, responsável pelo Teatro Aberto, conta como começou a sua atividade no teatro via rádio: "Ainda me lembro como se fosse hoje de ir com os meus pais ao Teatro Nacional. E sentado na plateia sentir-me admiradíssimo, entusiasmado, com um rei que vi no palco. O rei era o Raul de Carvalho. No final o meu pai disse-me: «Eu conheço-o bem, ele costuma ir lá ao escritório, queres que vos apresente?» E apresentou-me ao Raul de Carvalho. Estávamos a conversar e ele disse ao meu pai que a Odette de Saint-Maurice, na Emissora Nacional, procurava um miúdo da minha idade, com a minha voz. O meu pai perguntou-me se queria experimentar e aceitei. Mas fui logo avisado que não poderia faltar à escola. [Risos] Lá apareci à Odette e fiz o meu primeiro folhetim na rádio. [...] fiz muitos folhetins na Emissora Nacional, no Rádio Clube Português, na Rádio Graça… E comecei a contactar, a conviver de perto com os atores todos".
sábado, 10 de fevereiro de 2018
Programa Passado ao Presente
Hoje, no programa Passado ao Presente, de João Carlos Callixto (https://www.rtp.pt/play/p1401/e330297/passado-ao-presente). Com Paulo Pepe e Rogério Santos. "Uma conversa com duas gerações de investigadores, o primeiro com o livro "Do Pop ao Teatro de Rua", que reflete sobre António Variações, e o segundo com "A Emissora Nacional e as Mudanças Políticas (1968-1975)"".
No programa, as minhas duas escolhas musicais foram "O Mar Enrola na Areia", do Rancho Folclórico Poveiro (editora Rádio Triunfo) e "Trova do Vento que Passa", de Adriano Correia de Oliveira, com música de António Portugal e letra de Manuel Alegre (editora Orfeu). Aproveitei ainda para recordar Rogério Leal, Frederico Lupi Nogueira e Licínio Oliveira, todos da Emissora Nacional. E ainda Arnaldo Trindade, o editor da Orfeu. Uma curiosidade lembrada por João Carlos Callixto: a música do Rancho Folclórico Poveiro (1957) foi criada na transição da produção de discos de 78 para 33 1/3 rotações por minuto.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018
Rádio em Angola (Diamang)
A investigação sobre a rádio obriga-me a ler muitos textos e documentos. Um dos meios impressos que sigo é o "Diário do Governo", III Série. Já me tinha cruzado com o relatório e contas da Diamang, empresa privada de exploração de diamantes em Angola. Li com atenção o relatório publicado na folha do governo a 13 de julho de 1954, de que ficam aqui cópias digitalizadas (pp.1600-1625).
A estação radiofónica do Dundo emitia programas diários com música gravada, palestras e teatro radiofónico (p. 1618). Diz o relatório: "Vários sócios e senhoras das suas famílias asseguraram o serviço de locução". A discoteca tinha 2662 discos, certamente em 78 rpm, de música clássica, concerto, regional e dança. Um concurso literário teria incluído as modalidades de peça radiofónica e programa radiofónico.
O meu interesse no relatório acaba aqui. Contudo, as 26 páginas impressas dão uma ideia antropológica geral do que era uma empresa numa colónia rica como Angola. Os diamantes significavam muito dinheiro e despertavam muita cobiça, o que levaria a administração a ponderar razões e sensibilidades. Por vezes, há críticas veladas ao funcionamento da política colonial. Mas múltiplos elementos, parecendo objetivos, mostram a brutal realidade em 1954 de uma exploração mineira. Por exemplo, a distinção entre pessoal branco (287, dos quais apenas 8 não eram portugueses), comparativamente com 17 mil indivíduos indígenas, ainda por cima divididos em assimilados e diferenciados. E uma experiência que não correu bem ou como diz o relatório: "infeliz experiência da introdução de mão de obra cabo-verdiana na Lunda" (p. 1606). Do pessoal branco, havia 9 engenheiros, sem contar com os da direção, 12 médicos e 16 enfermeiros. No ano a que reporta o relatório, tinham nascido 28 crianças brancas. Do conjunto de empregados brancos, 92 tinham até três anos de serviço.
Numa Festa Desportiva dedicada à população indígena, participariam nas eliminatórias: 396 quiocos, 34 songos, 27 minungos, 23 lundas, 22 balubas, 7 cafias, 8 luluas, 3 matapas, 3 quimbundos, 8 camaxilos, 2 luenas, 2 caquetes, 1 bângala, 1 bieno, 1 tucongo e 1 bailundo. Estes números indicam uma precisão diria que científica.
O relatório destacaria a visita do subsecretário de Estado do Ultramar, cujo avião aterraria no aeródromo do Dundo. A outra personalidade importante seria oferecido um jantar seguido de baile, com números de teatro e teatro radiofónico e um "vistoso" fogo de artifício.
Atente-se ainda nos subcapítulos como relações com as autoridades, visitas, exploração e prospeção, pessoal branco e indígena, serviços agrícolas e pecuários, assistência material e moral (como serviços de saúde, ensino primário, museu e realizações culturais, caso da rádio do Dundo), transportes e vias de comunicação e roubo de diamantes.
A estação radiofónica do Dundo emitia programas diários com música gravada, palestras e teatro radiofónico (p. 1618). Diz o relatório: "Vários sócios e senhoras das suas famílias asseguraram o serviço de locução". A discoteca tinha 2662 discos, certamente em 78 rpm, de música clássica, concerto, regional e dança. Um concurso literário teria incluído as modalidades de peça radiofónica e programa radiofónico.
O meu interesse no relatório acaba aqui. Contudo, as 26 páginas impressas dão uma ideia antropológica geral do que era uma empresa numa colónia rica como Angola. Os diamantes significavam muito dinheiro e despertavam muita cobiça, o que levaria a administração a ponderar razões e sensibilidades. Por vezes, há críticas veladas ao funcionamento da política colonial. Mas múltiplos elementos, parecendo objetivos, mostram a brutal realidade em 1954 de uma exploração mineira. Por exemplo, a distinção entre pessoal branco (287, dos quais apenas 8 não eram portugueses), comparativamente com 17 mil indivíduos indígenas, ainda por cima divididos em assimilados e diferenciados. E uma experiência que não correu bem ou como diz o relatório: "infeliz experiência da introdução de mão de obra cabo-verdiana na Lunda" (p. 1606). Do pessoal branco, havia 9 engenheiros, sem contar com os da direção, 12 médicos e 16 enfermeiros. No ano a que reporta o relatório, tinham nascido 28 crianças brancas. Do conjunto de empregados brancos, 92 tinham até três anos de serviço.
Numa Festa Desportiva dedicada à população indígena, participariam nas eliminatórias: 396 quiocos, 34 songos, 27 minungos, 23 lundas, 22 balubas, 7 cafias, 8 luluas, 3 matapas, 3 quimbundos, 8 camaxilos, 2 luenas, 2 caquetes, 1 bângala, 1 bieno, 1 tucongo e 1 bailundo. Estes números indicam uma precisão diria que científica.
O relatório destacaria a visita do subsecretário de Estado do Ultramar, cujo avião aterraria no aeródromo do Dundo. A outra personalidade importante seria oferecido um jantar seguido de baile, com números de teatro e teatro radiofónico e um "vistoso" fogo de artifício.
Atente-se ainda nos subcapítulos como relações com as autoridades, visitas, exploração e prospeção, pessoal branco e indígena, serviços agrícolas e pecuários, assistência material e moral (como serviços de saúde, ensino primário, museu e realizações culturais, caso da rádio do Dundo), transportes e vias de comunicação e roubo de diamantes.
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018
Mais um texto sobre as rádios livres
Um texto importante para se compreender o nascimento e a evolução das rádios livres: Ana Paula Azevedo (2001). "As Rádios Locais no Pós-25 de Abril". Observatório, 4: 113-122. Já referido nesta página, comparar com o texto de Ana Isabel Reis, no livro organizado por Ana Isabel Reis, Fábio Ribeiro e Pedro Portela: http://www.lasics.uminho.pt/…/cecs_e…/article/view/2049/1971.
domingo, 4 de fevereiro de 2018
Lançamento de "A Emissora Nacional e as Mudanças Politicas (1968 / 1975)...
O lançamento do livro A Emissora Nacional e as Mudanças Políticas (1968-1975) foi um momento feliz para mim. Primeiro, pela editora: MinervaCoimbra (nas pessoas de Isabel e José Alberto Garcia), depois, pelo apresentador, Adelino Gomes. A seguir, pelo áudio na Antena 1, trabalho feito por Olívia Santos (https://www.rtp.pt/…/p1467/e328941/entrevista-tarde-antena-1), que me perguntou como ia eu ouvir a gravação, lançada no ar no momento da apresentação do livro, ao que respondi que o ouviria em podcast. A rádio, hoje, é mais completa que outrora: além de se ouvir em direto, os registos são guardados em formato digital e ouvidos em qualquer momento e nos dispositivos móveis. Depois, agradeço o vídeo feito por Nunes Forte, um homem que dedicou toda a sua vida à rádio e à indústria do audiovisual, e as fotografias feitas por Fernando Corrêa dos Santos.
Do apresentador, Adelino Gomes, retiro as seguintes ideias, algumas tiradas diretamente do seu texto: O apresentador falou em “jornada investigativa excecional”: a história desde os pioneiros da rádio em Portugal que o autor vem escrevendo e submetendo ao escrutínio dos pares e à curiosidade dos cidadãos. À medida que o tempo avança em direção aos dias de hoje, cresce o número de leitores (e especialistas) com memória de pedaços e nalguns casos até com vivência direta do lado de quem participou e até num ou noutro caso protagonizou história dessa história. Razão pela qual foi escolhida apenas a EN. Contextos políticos, sociais e profissionais que enquadram os dois períodos distintos da história da rádio oficial abarcados pelo trabalho: o que vai de 1968 a 1974, marcado por uma tentativa, falhada, de liberalização do regime de ditadura, e aquilo que o autor designa por “a dinâmica dos dezoito meses de revolução” (abril de 1974 ao imediato pós 25 de novembro de 1975). Opção que o leva a reservar atenção às biografias pessoais daqueles que designa como “agentes perdedores no começo e no fim da revolução”. Isto é, primeiro o que aconteceu ao pessoal mais identificado com o marcelismo; e depois, ao pessoal mais identificado com o gonçalvismo. O último parágrafo do livro presenteia-nos com uma síntese crítica do melhor que li ou ouvi sobre em que se traduziram e o que representaram radiofonicamente estes sete anos de fim de um regime e de início de outro [o posterior aparecimento das rádios livres, que introduziram um novo período de grande criatividade na rádio]. O apresentador falou também numa injustiça a um grande profissional, já falecido, e não abordado no livro: António Jorge Branco. O autor tomou nota do reparo, e agradece.
[registo de Patrícia Cardoso]
[vídeo de Nunes Forte]
Do apresentador, Adelino Gomes, retiro as seguintes ideias, algumas tiradas diretamente do seu texto: O apresentador falou em “jornada investigativa excecional”: a história desde os pioneiros da rádio em Portugal que o autor vem escrevendo e submetendo ao escrutínio dos pares e à curiosidade dos cidadãos. À medida que o tempo avança em direção aos dias de hoje, cresce o número de leitores (e especialistas) com memória de pedaços e nalguns casos até com vivência direta do lado de quem participou e até num ou noutro caso protagonizou história dessa história. Razão pela qual foi escolhida apenas a EN. Contextos políticos, sociais e profissionais que enquadram os dois períodos distintos da história da rádio oficial abarcados pelo trabalho: o que vai de 1968 a 1974, marcado por uma tentativa, falhada, de liberalização do regime de ditadura, e aquilo que o autor designa por “a dinâmica dos dezoito meses de revolução” (abril de 1974 ao imediato pós 25 de novembro de 1975). Opção que o leva a reservar atenção às biografias pessoais daqueles que designa como “agentes perdedores no começo e no fim da revolução”. Isto é, primeiro o que aconteceu ao pessoal mais identificado com o marcelismo; e depois, ao pessoal mais identificado com o gonçalvismo. O último parágrafo do livro presenteia-nos com uma síntese crítica do melhor que li ou ouvi sobre em que se traduziram e o que representaram radiofonicamente estes sete anos de fim de um regime e de início de outro [o posterior aparecimento das rádios livres, que introduziram um novo período de grande criatividade na rádio]. O apresentador falou também numa injustiça a um grande profissional, já falecido, e não abordado no livro: António Jorge Branco. O autor tomou nota do reparo, e agradece.
[registo de Patrícia Cardoso]
[vídeo de Nunes Forte]
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
Nuno Artur Silva
"Não sei como agradecer todas as dezenas e dezenas e dezenas de mensagens que por todos os meios tenho recebido de amigos, conhecidos, desconhecidos.
Ao mesmo tempo que fui alvo de uma campanha difamatória reles, miserável, sem escrúpulos, lançada precisamente neste momento com o intuito de impedir a minha continuidade na administração da RTP - campanha, por sinal, bem sucedida - fui igualmente inundado por manifestações de pessoas que, não tendo contacto com tablóides onde trabalham pessoas que se fazem passar por jornalistas e que representam a pior escumalha da comunicação social, são pessoas que simplesmente como ouvintes e espectadores dos canais da RTP têm feito questão de me dizer que não percebem o que se passou e que estão a gostar cada vez mais desta RTP e a encontrar nela a evidência de serviço público.
Tem sido para mim absolutamente inesperado, comovente, redentor, o que me têm dito do nosso trabalho nestes três anos na RTP.
Quando penso em tudo o que a vida me tem proporcionado sinto-me um privilegiado. Este é um desses momentos.
Foram três anos empolgantes em que, com excelentes equipas, pudemos concretizar muito do que acreditávamos que devia ser feito.
Agora é tempo de regressar ao meu lugar de sempre: um qualquer sítio onde possa ter ideias, escrever e desenvolver projectos com outras pessoas.
Continuarei sempre a fazer o que gosto. Com quem gosto. Tenho os inimigos certos. Que mais posso desejar?" (https://www.facebook.com/nunoartur?hc_ref=ARTMyv7lBVQ5amu8xvU0_Xy4_1j8RyfXoElDiCICJ9U2U8Cx6-j_4GhyseiEGN66DPA&fref=nf).
Concordo com as palavras de Nuno Artur Silva. Sou um fã da sua obra. Mas uma empresa pública tem obrigações precisas: a separação entre interesse público e interesse privado. À criatividade opõe-se a necessidade de transparência. Estas palavras, assim ditas, são ocas? Talvez. Mas marcam a sociedade.
Ao mesmo tempo que fui alvo de uma campanha difamatória reles, miserável, sem escrúpulos, lançada precisamente neste momento com o intuito de impedir a minha continuidade na administração da RTP - campanha, por sinal, bem sucedida - fui igualmente inundado por manifestações de pessoas que, não tendo contacto com tablóides onde trabalham pessoas que se fazem passar por jornalistas e que representam a pior escumalha da comunicação social, são pessoas que simplesmente como ouvintes e espectadores dos canais da RTP têm feito questão de me dizer que não percebem o que se passou e que estão a gostar cada vez mais desta RTP e a encontrar nela a evidência de serviço público.
Tem sido para mim absolutamente inesperado, comovente, redentor, o que me têm dito do nosso trabalho nestes três anos na RTP.
Quando penso em tudo o que a vida me tem proporcionado sinto-me um privilegiado. Este é um desses momentos.
Foram três anos empolgantes em que, com excelentes equipas, pudemos concretizar muito do que acreditávamos que devia ser feito.
Agora é tempo de regressar ao meu lugar de sempre: um qualquer sítio onde possa ter ideias, escrever e desenvolver projectos com outras pessoas.
Continuarei sempre a fazer o que gosto. Com quem gosto. Tenho os inimigos certos. Que mais posso desejar?" (https://www.facebook.com/nunoartur?hc_ref=ARTMyv7lBVQ5amu8xvU0_Xy4_1j8RyfXoElDiCICJ9U2U8Cx6-j_4GhyseiEGN66DPA&fref=nf).
Concordo com as palavras de Nuno Artur Silva. Sou um fã da sua obra. Mas uma empresa pública tem obrigações precisas: a separação entre interesse público e interesse privado. À criatividade opõe-se a necessidade de transparência. Estas palavras, assim ditas, são ocas? Talvez. Mas marcam a sociedade.
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