segunda-feira, 26 de março de 2018

Rádio Clube Lusitânia

Nunca ouvi Rádio Clube Lusitânia nem a voz do seu proprietário, Júlio Nogueira, mas, para mim, ele é um herói. A sua estação começou a emitir em 17 de julho de 1939, muito pouco tempo antes do começo da II Guerra Mundial, embora o sopro da violência nazi já se fizesse sentir. Júlio Nogueira tinha uma empresa de serração (importação e exportação de madeiras).

A sua programação, incluída na mesma frequência que outras estações do Porto (Grémio dos Comerciantes da Rádio, com emissor a centralizar as emissões, Ideal Rádio, ORSEC, Eletromecânico, Portuense Rádio Clube e Rádio Clube Invicta), era composta por palestras (cultural, feminina), programas (ligeiro, popular, música de concerto e música gravada), teatro radiofónico e rubrica semanal O Meu Jornal. Num dos blocos desta rubrica, Júlio Nogueira defendeu a rádio como arte, criticou as rubricas de discos pedidos com dedicatórias (tipo: "posso pedir um disco? dedico o disco à minha namorada") e fez a apologia dos grupos dramáticos. Entre os colaboradores encontravam-se Armando Leça, Pedro Homem de Melo, maestro Raul Lemos e Rui Luís Gomes.

Finalizada a II Guerra Mundial, e pensando que o regime de Salazar iria acabar, Júlio Nogueira fez uma programação em defesa da democracia e da liberdade de expressão. A polícia política prendeu-o e a licença de radiodifusão foi cassada, nunca mais emitindo mesmo com outras propostas.

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