quarta-feira, 11 de abril de 2018

António Mafra

Esta semana, veio a notícia da morte de um elemento do conjunto António Mafra.
A notícia falava de "José Mafra, de 83 anos, um dos fundadores do Conjunto António Mafra". António Mafra, compositor, letrista do conjunto e intérprete de guitarra portuguesa, morrera em 1977. O vocalista Manuel Barros morrera em julho de 2016. O grupo tinha sido reativado em 1986, com a entrada de Manuel da Campanhã, com viola braguesa e cavaquinho. Rui Guerra seria o agente do grupo.

O conjunto António Mafra despontara em 1955, como dois recortes a seguir indicam (Jornal de Notícias, 18 de fevereiro e 11 de setembro de 1955), a partir de concurso do melhor cantador das freguesias do Porto, patrocinado pelo Grupo Dramático Beneficente Mocidade d'Arrábida. Os irmãos António e José Mafra moravam nessa zona da cidade e faziam parte do grupo de músicos que acompanhava os candidatos ao prémio. O vencedor seria Manuel Barros, da freguesia de Nevogilde. Estava construído o esqueleto do conjunto Caixinha de Surpresas, a tocar ritmos sul-americanos, depois mudado para Conjunto António Mafra, após sucesso em peça encenada por António Pedro (Teatro Experimental do Porto), e com música escrita e cantada em português. O grupo era constituído por António Mafra (empregado comercial), José Mafra (empregado de modas de senhora), Alberto Pereira (mecânico especializado), Manuel Barros Ribeiro (técnico de refrigeração), Mário João Leite (técnico da Emissora Nacional), Manuel Pinto (vendedor da indústria têxtil) e Venâncio Castro (não consegui apurar a profissão).

Os sucessos em disco surgiram de imediato. O primeiro datou logo de 1958, Arrebita, Arrebita, Arrebita, a que se seguiram Centopeia, O Vinho da Clarinha, Sete e Pico, Oito e Coisa, Nove e Tal, Carrapito da Dona Aurora e Oh Zé, Olha o Balão. Os Mafras editariam mais de 30 discos, quatro deles em formato LP, e atuariam nos Estados Unidos (1963, 1964 e 1968), Inglaterra, França e Canadá. A rádio foi a grande promotora desse reconhecimento. Os elementos do conjunto nunca ambicionaram profissionalizar-se e fazer carreira musical nacional e, em especial, internacional.

Do êxito dos Mafras, não posso esquecer o contributo de três homens das indústrias culturais. O primeiro é José Fortes, reputadíssimo técnico de som, que gravou os Mafras no seu espaço de ensaio, à rua dos Clérigos, no Porto. José Fortes foi falar com Carlos Silva, produtor e locutor do programa Última Hora, de Rádio Porto, nos Emissores do Norte Reunidos, para passar música dos conjuntos que ele gravava, embora Carlos Silva já conhecesse os membros do conjunto, pois fora o locutor apresentador do concurso de 1955. Os estúdios de Rádio Porto ficavam precisamente no edifício onde os músicos ensaiavam. O terceiro nome aqui trazido é o de Arnaldo Trindade, que gravou na sua etiqueta Orfeu muitos dos sucessos de António Mafra. Aliás, os Mafras foram aos Estados Unidos através de Arnaldo Trindade, com Carlos Silva a apresentá-los nos espetáculos nos Estados Unidos e no Canadá.



Deixo para o fim um excerto de entrevista que o radialista Carlos Silva (programa Última Hora) me concedeu, onde ele, entre outras memórias (Domingos Lança Moreira, Maria Adalgisa Costa, Maria Amélia Canossa, Olga Cardoso e Marino Marini), falou do conjunto António Mafra (minuto 5:57). Uma leitura particular da cultura da rádio e da música ligeira portuense, agora em desaparecimento e à espera do labor dos historiadores.

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