No número de 15 de fevereiro de 1925, a revista publicava, na página inicial, a fotografia do emissor 1AB (pouco depois CT1AB), de José Joaquim Dias de Sousa Melo, e, no número de 15 de março do mesmo ano, o esquema do mesmo emissor. Na primeira imagem, no topo do móvel, além da campânula (gramofone) observa-se a bobina emissora (ninho de abelha), e, abaixo, os auscultadores e o microfone. As primeiras experiências, escreveu o amador, começaram em novembro de 1924, com duas válvulas, continuando em dezembro, com cinco bobinas e três condensadores. Por esta descrição, o esquema parece-me incompleto, pois apenas se vê representada uma válvula eletrónica.
Fixo-me na data aproximada das primeiras experiências: novembro de 1924.
Na realidade, o número de 30 de novembro de 1924 noticiava um amador a fazer ensaios na onda de 450 metros, com as iniciais PS (tornada, como acima indico, em 1AB e depois CT1AB). Todas as noites, o amador chamava "Allo! Allo! Aqui, posto português PS". No número de 14 de dezembro de 1924, a revista TSF em Portugal indicava continuarem as experiências e avisava outro posto emissor de estar a criar obstáculos a esta ação, "pois não gostaria de ser perturbado se estivesse em audição". Também CTV, o posto militar de telegrafia de Monsanto, era uma ameaça à transmissão dos amadores, devido ao uso de emissor de faísca (isto é, sem frequência definida), depois substituído por equipamento com frequência determinada por oscilador.
TSF em Portugal, no número de 18 de janeiro de 1925, publicaria a fotografia de José Joaquim de Sousa Dias Melo, considerado o "primeiro amador de Lisboa que construiu um posto de transmissão".
Mas a notícia mais interessante seria publicada pela revista no número de 28 de dezembro de 1924. Além da referência a 1PAB, agora com quatro lâmpadas eletrónicas, que emitia em telegrafia e telefonia, a indicar a passagem da transmissão de morse para a da voz, através de microfone. A mesma notícia apresenta outro emissor, o que realmente me interessa aqui: 1PAA, depois modificado para CT1AA. Lê-se: "1PAA tem feito interessantíssimas experiências, tendo já por diversas vezes transmitido concertos que têm agradado imenso a todos os que têm ouvido tanto em nitidez, como em intensidade". As experiências caminhavam no sentido da regularidade, no que posso definir como emissões de rádio. Logo, a rádio em Portugal começou a sua existência no final do outono de 1924.
No número de 8 de março de 1925, a revista publicaria o programa de P1AA com a emissão do terceiro concerto-prova da Sociedade de Amadores de Rádio Portugal (a designação mais frequente de 1PAA, depois CT1AA), a começar às 21:00 na banda dos 300 metros. Os anteriores concertos transmitidos pela estação teriam ocorrido entre meados de dezembro de 1924 e fevereiro de 1925. Tal significa que, em menos de três meses, os amadores da rádio portuguesa evoluíram rapidamente. A revista TSF em Portugal teria forte influência nesse desenrolar, pelo incentivo constante. O número de 15 de março do mesmo ano inseria uma carta encomiástica "tanto na organização feita pelo sr. dr. Carlos Pimentel , como pela execução dos distintos amadores e artistas musicais, o programa marcou pela seleção dos seus números e pela perfeição da transmissão levada a efeito pelo proprietário do posto sr. Abílio dos Santos". Por seu lado, a estação P1AB emitiria um concerto a 12 de março de 1925: além de música clássica, atuaria o fadista Alfredo Marceneiro, acompanhado à guitarra por Álvaro Cunha. Um intervalo humorístico também fazia parte do programa, com Lino Sousa.
Na edição seguinte de TSF em Portugal, a 15 de março de 1925, o anúncio do quarto concerto-prova da Sociedade de Amadores Rádio Portugal, trazia uma novidade, o speaker (locutor) Herculano Levy.
A vida de Herculano Levy dava quase um filme. Nascido em São Tomé, filho ilegítimo de Salvador Levy, procurou herdar o que lhe competia da fortuna do pai, o que conseguiu após decisão do tribunal. Mas, antes, e para sobreviver, foi crítico de arte, teatro, cinema e música. Depois, passou a gerir uma distribuidora de filmes até ser convidado por Ricardo Covões para fazer a publicidade e promoção do Coliseu dos Recreios. Quando o tribunal considerou legal usar o nome e receber a parte da fortuna do pai a que tinha direito, ele retirou-se da atividade e passou a administrador de prédios que comprou. O seu conhecimento musical permitiu-lhe fazer diversas conferências sobre músicos internacionais [informação a partir do livro de Carlos Espírito Santo, Herculano Levy, Poemas, 2000].
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