Nas décadas de 1950 e 1960, aqueles que tinham uma visão geral do serviço público de media eletrónicos olhavam mais para a televisão do que para a rádio, escreveu Jack W. Mitchell, relatando a situação nos Estados Unidos. O eixo Boston-Nova Iorque, com as universidades de Harvard, Princeton e Yale, nomeadamente, não tinha uma estação de rádio como objetivo, apesar das comunidades académicas olharem o serviço de rádio da BBC (Inglaterra) como meio ideal em termos educacionais.
Em Boston, continua Mitchell a escrever, a estação WGBH foi o modelo americano, instituição independente e sem o objetivo do lucro, propriedade de um conjunto de instituições educativas, cuja estrutura, governação e obtenção de fundos se assemelhava aos museus, orquestras sinfónicas e outras entidades privadas a funcionarem dentro do ideal filantrópico dos Estados Unidos [modelo que não se replica, por razões históricas e sociais, noutros países como Portugal]. Como a BBC e outras entidades que emergiram depois, a rádio WGBH representava os valores sociais e culturais da elite civil educada, emitindo muitas horas de música clássica, intercalada com teatro radiofónico e entrevistas. A qualidade inerente não buscava educar ou elevar a literacia da população, no sentido do missionário, mas tornou-se tão só um refúgio cultural.
A rádio cultural perdeu impacto ao longo da década de 1960, reporta ainda Mitchell, porque não se enquadrava no espírito da transformação da sociedade. A televisão passava a ser o alvo prioritário do dinheiro a investir na educação. Mitchell identifica, por exemplo, a Fundação Ford. A educação pelo meio televisão ajustava-se às ideias do presidente americano Johnson de criar uma sociedade com direitos iguais para as minorias, fim da pobreza e segurança para os idosos. Apesar da corrente, os novos ideais americanos conduziram a Fundação Carnegie a envolver-se num projeto que seguia a perspetiva de Reith e Hoover da rádio servir as minorias. Daí, saiu um relatório sobre o meio negligenciado que se tornou a rádio (The Hidden Medium: Educational Radio. A Status Report, 1967).
O relatório, conhecido por relatório Herman Land, nome do consultor responsável pelo documento, descrevia os ouvintes da rádio educativa como possuindo valores de educação e de rendimento acima da média e mais velhos que os ouvintes das rádios comerciais e musicais. Falava-se, nesse sentido, de rádio pública. A discussão política, no Senado por exemplo, não interessa aqui. Mas importa realçar que, da quase invisibilidade da questão, se proporcionou o nascimento da Rádio Pública Nacional (National Public Radio, NPR).
Jack W. Mitchell quando publicou Listener Supported. The Culture and History of Public Radio (2005) tinha 64 anos de idade. Ele fora o primeiro produtor do programa All Things Considered e fora, por três vezes, presidente da NPR, não sei se mandatos seguidos ou intercalados. All Things Considered foi um programa muito focado na informação e nas notícias. À data da edição do livro, Mitchell era docente na universidade de Illinois.
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