quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

LIVRO

Saiu recentemente um livro de Helena Matos, intitulado Salazar, a construção do mito. A autora, jornalista do Público, promete para breve a saida de um segundo volume, dado que o agora publicado cobre aquilo a que ela chama de "representações desse homem" entre 1928 e 1933.

Helena Matos diz que a obra publicada não é a de uma historiadora mas de uma jornalista. Contudo, o seu trabalho é meticuloso e organizado, tem um bom fundo bibliográfico, apesar de não estar no final do volume, mas apenas em notas de rodapé. Tem também uma excelente cronologia, que começa em 1925, ainda antes do 28 de Maio.

O livro traz citações de entidades da época, os capítulos apresentam uma introdução, há narrativa, ou, como dizem os sociólogos do jornalismo, estórias [afinal o(a) jornalista e o(a) historiador(a) não são contadores de estórias?), e até imagens da época. Estou a lembrar, por exemplo, a incluida na página 193: "qual é a rapariga mais bonita das revistas de Lisboa?", um concurso organizado pelo Notícias Ilustrado.

Apenas uma nota sobre o mito Salazar, como nos descreve Helena Matos: "O ascendente de Salazar sobre os outros ministros vai mesmo ao ponto de, em alguns casos, em nome desse «interesse superior», controlar as declarações que estes prestam à imprensa" (p. 197). Estávamos ainda em 1931! Valerá a pena cotejar com o agora também editado livro das entrevistas dadas por Salazar a António Ferro, estava este ainda no Diário de Notícias antes de "voar" para o SPN. Ou reler a tese de José Rebelo sobre o modo como as entrevistas de Salazar dadas a jornalistas estrangeiros eram referenciadas na imprensa nacional.

Os capítulos do volume agora editado referem-se a anos, começando em 1928. Mas 1932 ocupa dois capítulos, sinal da importância desse ano na biografia de Salazar.

O livro é para comprar, com uma capa sugestiva, embora o preço não seja muito convidativo (€ 31).

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