terça-feira, 13 de janeiro de 2004

QUARTETO

Há dias, na sua coluna do jornal Público, Eduardo Prado Coelho escrevia sobre o café Vává, ali na esquina da Avenida de Roma com a Avenida Estados Unidos da América. O Vává tinha sido um espaço de reunião de intelectuais e de artistas, prontos a discutir as últimas vanguardas. O café transformou-se em restaurante e perdeu o élan antigo. Nessa altura, eu não vivia aqui. Mas lembro-me de, há já muitos anos, ter usado nesse restaurante, enquanto jantava, pela primeira vez, um primeiro telefone portátil (telefone fixo sem fios) para falar com a família.

Eduardo Prado Coelho refere um outro local da zona, intimamente ligado - as salas de cinema Quarteto. Como o café, escreveu ele, o Quarteto passou de moda. Na realidade, parece ter passado o seu tempo áureo. As salas não são muito confortáveis, têm uns degraus temerosos. Mas possui uma bela entrada, com uma pequena cafetaria antiga e mesas e cadeiras. Há alguns meses, a cafetaria esteve fechada. Não percebi bem qual a razão, mas parece-me que o proprietário do espaço tinha argumentação. Fica por saber se o negócio dá lucro. Agora, nos dias que correm, os cinemas apetrecham-se com outras parcerias. Ainda na Avenida de Roma, ou próximo dela - no King, funciona uma livraria da Assírio & Alvim e uma pequena cafetaria; no Londres, entrou ao serviço, recentemente, uma cafetaria e restaurante da cadeia Magnólia, com chocolates e doçaria de chamar a atenção, para além de livros e jornais para ler.

A assistência aos filmes do Quarteto não é muita, o que faz pena. O Quarteto mantém, desde há 28 anos, uma newsletter, a Quarteto Notícias, lembrando os cineclubes de há trinta anos (pelo menos na minha memória e experiência). Não são textos críticos, mas textos editados no Público, Blitz, Télérama, San Francisco Chronicle, Rolling Stone, etc., que, se não formam, pelo menos informam (é desagradável irmos ver um filme sem referências, não é?). No seu número inicial de 2004, de quatro páginas A4, com imagens referentes às películas em exibição, a capa traz o Urso de Prata do Festival de Berlim 2003, a obra de Patrice Chéreau, O seu irmão, filme melancólico sobre a lenta morte de um homem, com o seu irmão, reencontrado, a acompanhar esses momentos finais. Trata-se de um filme sobre corpos e o vazio deles, como fôra o filme anterior de Chéreau, Intimidade. Este passado em Londres, entre um teatrinho e uma loja de produtos sexuais, aquele passado entre um hospital de Paris e uma casa na Bretanha. Com uma casa mais pessoal e íntima pelo meio. Mas no Quarteto passam, neste momento, outros filmes como Na América, retrato de uma família irlandesa que entra ilegalmente na América e procura emprego em Nova Iorque. A distribuição dos filmes, da Link Filmes e da Castello Lopes Multimedia, não nos mostra cinematografias de países marginais às grandes produções, mas obras em torno de temas estranhos e, até, comoventes.

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