quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

EM DEFESA DOS LP (DISCOS DE VINIL)

No passado dia 20, no DN Mais, suplemento do Diário de Notícias, escrevia José Victor Henriques sobre gira-discos. Aparentemente uma matéria anacrónica. Mas a sua leitura despertou-me interesse, eu que, como a maior parte das pessoas, trocou o vinil pelo CD.

Gira-discos
J. V. Henriques apresenta-nos o gira-discos Musical Fidelity M1. Para o colunista, este M1 saiu das mãos de Anthony Michaelson, criador de alguns dos melhores leitores de CD da actualidade, caso do A308 cr (24-bit “upsampling”). Sem publicidade, pois não tenho qualquer interesse na marca, deixo aqui a sua imagem.

O gira-discos foi lançado em Dezembro último. Se se produz é prova que há ainda cultores do vinil que os compram! Sabe-se que os DJ preferem manipular os discos pretos na transição de músicas. Li, há algum tempo atrás, que abriu uma loja perto da estação ferroviária de Santa Apolónia (Lisboa), onde se podem comprar os nostálgicos discos pretos (mas não indaguei se há negócio ou se a loja ainda está viva). E na Feira da Ladra há quem venda preciosidades em vinil.

Deixo a publicidade que se encontra no sítio da Musical Fidelity: “Now, at last, I can give you a final price of £ [...] for the turntable with outboard power supply and magnificent SME pick-up arm. The production version of the M1 exceeds even our best hopes for performance, sound and aesthetics. Due to its high mass, rigid construction, state-of-the-art suspension system and naturally inert structure, the M1 produces uncoloured, clear lucid images, which are simply stunning to hear. Its clarity and musicality really took my breath away when I had a careful listen”. Qualidade sonora, design e estética em primeiro lugar nos produtos desta marca. Diz ainda mais a publicidade; “a marca compromete-se com o audiófilo e as raízes musicais”, num justo equilíbrio entre preço e performance. Espantosa esta promoção!

Resumindo, J. V. Henriques presta homenagem a um formato que “teima em resistir à morte anunciada, e que tem ganho adeptos à medida que a indústria não define os formatos de alta resolução”. Qual a principal diferença entre o som do LP e do CD, pergunta o mesmo articulista. Ele tece comparações com o jornal onde escreve: “No DNA as fotos são reproduzidas com mais resolução e as cores são mais saturadas. Por outro lado, no DNA as fotos são reproduzidas na íntegra, enquanto no DN Mais optam por vezes por recortá-las. As fotos recortadas têm, sem dúvida, mais impacto gráfico. Por outro lado, perde-se o contexto. Embora o CD tenha evoluído espectacularmente nos últimos cinco anos, o LP oferece-nos um som menos «recortado» mas mais rico em informação sobre o contexto acústico que o envolve”. E o autor destaca ainda a Linn, outra empresa dos velhos-sempre-novos gira-discos, que continua a vender o Sondek LP12.

O que se passa com as vendas dos CD?
Tudo isto é curioso se olharmos para os dados já publicados sobre vendas em Portugal no ano 2003. Para o Público de 24 de Fevereiro, a venda de CD caiu 10%. Só no Natal é que as coisas se recompuseram. E dos dez álbuns mais vendidos, cinco eram portugueses [o primeiro dos quais o "Concerto acústico", de Rui Veloso]. O número de unidades não terá atingido os 10 milhões, segundo dados da Associação Fonográfica Portuguesa, escreveu a jornalista Carla Gonçalves de Almeida [em termos de DVD, venderam-se 6,8 milhões de cópias, quase o triplo de 2002 (2,5 milhões); deste volume, destacam-se 753 mil unidades musicais].

Explicações? Falta de dinheiro e downloads grátis. Num texto assinado por V.B., fornecem-se mais pormenores. Nunca se criou tanta música como agora, nunca se realizaram tantos concertos com salas esgotadas como agora. Só que o bouquet de ofertas é mais complexo. Pode assistir-se ao concerto anunciado dos Limp Bizkit, pagando-se o seu ingresso, mas “saca-se” à borla o seu último disco, da internet. Toda a indústria está a encarar o fenómeno dos downloads e da pirataria dos CD de modo mais proactivo – aceitando que não há reversibilidade no processo e que é necessário alterar os processos de trabalho em toda a cadeia de valor da indústria. Para isso, baixam-se os preços dos CD e tenta-se rentabilizar os downloads, criando sítios pagos.

O pequeno artigo acaba com pessimismo: talvez o CD como o conhecemos tenha os dias contados. É aqui que entram os gira-discos. Revivalismos?

Sem comentários: