PRODUÇÃO EM TELEVISÃO
O sector televisivo é de natureza complexa, integrando três tipos de actividade: 1) produção de conteúdos, 2) programação, e 3) difusão ou distribuição do sinal. O que proponho é, dentro da produção, seguir a tipologia trabalhada por Bustamante (2003: 117):
I) Pela sua natureza comercial
1) De fluxo (informativos, concursos, variedades): programas em geral de menores custos, mas efémeros e de curta vida comercial (raramente geram activos).
2) De stock (filmes, ficção televisiva, documentais, desenhos animados): programas com maior investimento e risco, mas geralmente com uma longa vida comercial e que geram activos empresariais.
A distinção entre fluxo e stock pertence a Patrice Flichy, em texto já antigo mas que mantém actualidade. Ele referia a existência de produtos contínuos (caso do jornal diário) e descontínuos (caso do filme), o que conduz a duas cadeias de valor diferentes. O filme, o disco ou o livro são protótipos (de custo inicial elevado ou muito elevado) que se reproduzem em quantidades variadas (de custo de reprodução muito baixo).
II) Pela sua origem
a) Produção própria: produzida total ou parcialmente pelo canal. 1) Produção interna: totalmente realizada pelo operador com os recursos próprios. 2) Produção externa: *) financiada: encomendada “chaves na mão” a um produtor externo, com total financiamento dos seus custos em dinheiro e recursos do canal, **) associada: co-produzida pelo canal com produtores independentes nacionais, ***) co-produção: co-produzida pelo canal em associação com produtores ou cadeias estrangeiros.
b) Produção alheia: compra de direitos de antena de programas produzidos sem colaboração do canal (produtos nacionais ou importados).
O peso acrescido da produção nacional nos anos 1990
Os canais privados de televisão que surgiram nas duas últimas décadas na Europa (em Portugal, em 1992, com a SIC, e 1993, com a TVI) iniciaram o seu percurso como difusores de programas alheios, excepto o que exigiam as concessões. Nos anos 1990, porém, alargou-se a produção nacional, em termos de ficção, com resultados superiores aos produtos norte-americanos, expulsando estes do prime-time (Bustamante, 2003: 119). Em Portugal, o salto dado pela TVI na produção de telenovelas portuguesas superou mesmo a visão de telenovelas brasileiras. O autor espanhol afirma mesmo que se estabelece mesmo uma rede de produção independente, pouco cultivada na história televisiva. É preciso, contudo, ter em conta que, na história da televisão pública, houve muitos géneros que foram produzidos internamente – o que leva a pensar na validade da afirmação do professor da Universidade Complutense. A tendência hoje visível precisa de ter maior consistência. Ainda não temos uma história económica completa da televisão pública e privada para fazermos um juízo definitivo.
Há, contudo, transformações que não se podem escamotear. Uma delas é a ligação entre o cinema e a televisão (e o aparecimento de entidades governamentais como o ICAM, que estimulam a ficção televisiva com a longa-metragem do cinema). Apesar da externalização, há apoios financeiros, que reduzem os custos e são sede de uma habitual maior criatividade. Em Portugal, há quase 40 produtores independentes de televisão, metade dos quais está associado na APIT, conforme post que coloquei no dia 19 deste mês. Bustamante (2003: 121) chama a atenção para a tendência de absorção vertical da produção, num controlo total da cadeia de valor. Outra das transformações, mais visível nos Estados Unidos que na Europa (e muito menos em Portugal), é o da criação de um segundo mercado (venda para circuitos diferentes, caso de mercados externos ou venda em DVD). Uma terceira transformação é a das co-produções internacionais. Finalmente, surge a ideia dos clones, os produtos testados num mercado nacional e adaptados a outros países. Lembramo-nos logo do reality-show Big Brother e da série Médico de família.
Bustamante salienta, na produção nacional, os seguintes géneros televisivos: longas-metragens, ficção televisiva, desporto de massas e telejornais. Estes têm um maior recurso a infotainment e auto-promoções, caso do noticiário da TVI. Nos géneros, acrescento, os concursos e reality-shows. Sánchez-Tabernero, em texto de 1997, salienta ainda a publicidade como género televisivo a não descurar.
Livros: Enrique Bustamante (2003). A economia da televisão. Porto: Campo das Letras (original de 1999)
Alfonso Sánchez-Tabernero et al. (1997). Estrategias de marketing de las empresas de televisión en España. Pamplona: EUNSA
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