MEMÓRIA JORNALÍSTICA - I
“Passei algum tempo, se bem que pouco, pelo Jornal da Noite, quando propriedade de João Franco e dirigido pelo dr. Fernando Martins de Carvalho, secretariado por Álvaro Pinheiro Chagas. Estive ali bastante embaraçado. João Franco era, então, fortemente atacado, e um belo dia – para mim péssimo – fui encarregado da reportagem dum comício onde aquele estadista seria alvo de grandes censuras. Enfim, para ali fui, sabem Deus e eu com que vontade! Mas tinha que cumprir o meu dever como empregado do Jornal da Noite.
“Num alto estrado, que parecia que se desconjuntava, não só pelo número dos oradores que sobre ele se encontravam, como pela maneira como eles batiam com os pés, para darem mais vigor às frases agressivas, eu estive em ânsias, desejoso que o comício tivesse pouca demora. Pensava com os meus botões: «Se eles adivinham que eu sou repórter do Jornal da Noite dão-me uma tareia que fico sem conserto». “A meu lado, como representante da autoridade, estava o major Dias. Mas teria ele tempo de me defender duma bengalada?
“E eu, que nunca fora político, via-me seriamente embaraçado nessa reunião política, fazendo a resenha dos discursos e olhando a multidão que se estendia em frente do estrado e cuja atitude não era das mais tranquilizadoras. Mas salvei-me, não só dessa reportagem, como de outra igualmente perigosa”.
Extraído de: Rafael Ferreira (1945). Nos bastidores do jornalismo. Lisboa: Edição Romano Torres, pp. 141-142
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