Segundo um comunicado do European Audiovisual Observatory, de 22 de Março último, houve uma baixa nas idas ao cinema na Europa comunitária da ordem dos 5%, em todos os cinco principais mercados (França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido). A maior queda verificou-se na Alemanha (9%), enquanto nos países a entrarem em Maio a Polónia registou uma queda de 14%. Mas a Lituânia e a Letónia tiveram mais espectadores de cinema.
Estima-se que nos 15 países da EU tenha havido 890,5 milhões de espectadores (não há um valor para Portugal, estimado sequer; espero que com a recente entrada em funcionamento da automatização das bilheteiras tal óbice desapareça). A França teve 174,2 milhões de espectadores, enquanto o Reino Unido teve 167,3 e a Alemanha 149 milhões. Dos filmes produzidos no espaço comunitário, o filme alemão Goodbye Lenin registou a venda de 6,4 milhões de bilhetes, tornando-se a película de maior sucesso o ano transacto. Por seu lado, as cinematografias espanhola e sueca também tiveram um ano relativamente bom.
Quais as razões para um decréscimo nas idas ao cinema? Com certeza, na minha interpretação, a crise económica e a expansão do cinema em casa.
O FIM DA ANIMAÇÃO TRADICIONAL
Tiro as ideias dos textos produzidos no suplemento Y, do Público, de 26 de Março. A propósito do filme de animação Kenai e Koda, uma das últimas oportunidades de ver um filme feito "à moda antiga" (texto de Sara Gomes)

Diz o mesmo artigo de Sara Gomes que o argumento de Kenai e Koda (Brother Bear, no original) foi reescrito centenas de vezes, com os realizadores à procura, nas bibliotecas, de ideias a partir de histórias, lendas e mitos (imagem retirada do sítio da AllBestMovie.com). As primeiras versões do filme recuperariam elementos dramáticos da peça de Shakespeare, Rei Lear. O músico Phil Collins assina a banda sonora. Trata-se, pois, de uma história sobre amizade e tolerância, sobre um anti-herói, feita por dois realizadores - Aaron Blaise e Robert Walker -, animadores da Disney desde há 14 anos, incluindo Mulan (1998) e O rei leão (1995).
Da animação em papel à animação em computador
A apresentação do filme à imprensa europeia ocorreu em Janeiro último, com a presença dos dois realizadores. Que, obviamente, lamentaram o fim do desenho de animação tradicional. Nesse momento, fechava o estúdio de animação tradicional da Disney, conforme escrevi neste sítio, onde trabalhavam 280 desenhadores de animação. Muitos foram reintegrados noutras unidades da Disney, outros despedidos.
A razão era o avanço no cinema de animação por computador. A Pixar (que criou o sucesso do Natal chamado À procura de Nemo) e a Dreamcast (com Shrek, em 2001) já tinham enveredado, com muito sucesso, por essa via. E a Pixar anunciara já não continuar a parceria com a Disney, como eu também já escrevi aqui.
Há quem ache que o desenho tradicional vá voltar a brilhar, pois o "computador torna tudo mais artificial e faz com que as personagens sejam muito mecânicas" (realizadora Aaaron Blaise, ainda na peça noticiosa de Sara Gomes), mas também se reconhece que desaparece o "pesadelo da criação e coordenação das cores" com a sua codificação num computador. Ou seja, com a adesão da Disney à digitalização, toda a indústria cultural vai mudar o modo produtivo dos filmes animados. Até porque, também se diz, a computação gráfica abre um novo mundo de oportunidades para a ficção. E os realizadores de Kenai e Koda estão já a desenvolver competências no mundo dos computadores, após a necessária reciclagem de conhecimentos.
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