sexta-feira, 26 de março de 2004

IMAGENS DA IMIGRAÇÃO NA IMPRENSA E NA TELEVISÃO PORTUGUESA

Foi ontem apresentado um estudo com o título acima indicado, uma encomenda do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) e do Observatório da Imigração ao Instituto de Estudos Jornalísticos da Universidade de Coimbra. A equipa que fez o trabalho é liderada pela Profª Isabel Ferin e conta ainda com as investigadoras Profª Maria João Silveirinha e drªs Ana Teresa Peixinho e Clara Almeida Santos.

O que nos diz o trabalho Imagens da imigração na imprensa e na televisão portuguesa? Primeiro, o âmbito do trabalho: trata-se de um projecto de análise de conteúdo e de análise crítica do discurso sobre 1538 peças de imprensa em três diários de referência, dois semanários e três jornais populares, e 224 peças televisivas dos noticiários de prime-time nos quatro canais de sinal aberto, recolhidas ao longo do ano de 2003 (a televisão abrangeu apenas o período de Abril a Dezembro). Além disso, a realçar a constituição das variáveis, que as autoras dividiram (na análise de conteúdo) em três grupos: forma, conteúdo e discurso. Além disso ainda, registo o recurso a ferramentas informáticas: o programa usado foi o MAXQDA da Sage.

Depois, algumas ideias que se mostram no texto: o destaque de saliências temáticas, que configuram interacções com as agendas pública, política e mediática, a contextualização do fenómeno imigração e os temas associados (crime, desemprego, profissões não qualificadas, reagrupamento familiar), a imagem de Nós contra Eles (os que vêm de fora, os imigrantes).

Algumas linhas do estudo
Destaco algumas comparações dos resultados obtidos na análise de conteúdo à imprensa e à televisão: 1) o agendamento (ou o máximo de notícias) não é coincidente nos dois media; 2) enquanto o trabalho ocupa o tema principal nas notícias de imprensa, o crime e a prostituição desempenham os lugares primeiros nas peças televisivas; 3) a maioria das peças são breves na imprensa e não ultrapassam 2' 45" na televisão; 4) em termos de situação jurídica do imigrante, imprensa e televisão destacam o tema de "indocumentados e ilegais", seguindo-se a questão de "residência permanente"; 5) o local de acção das peças, em termos da sua maior percentagem, aponta para "Portugal" na imprensa enquanto aponta "Grande Lisboa" nas televisões (a minha interpretação vai no sentido de, na imprensa, se incluir o Jornal de Notícias, do Porto, ao passo que os canais generalistas se situam na Grande Lisboa); 6) o género maioritário retratado nas notícias é o masculino (37,9%) ao passo que o feminino anda perto (36,8%); 7) quanto a fontes, nota-se uma grande diferença entre os dos media - a imprensa procura informação junto das autoridades e a televisão mostra rostos (vox populi); 8) o tom das peças sobre imigrantes é neutro na imprensa e negativo na televisão; 9) a argumentação dominante nos jornais é de ordem social e securitária, ao passo que a televisão trata essencialmente da questão da segurança.

Novas tendências
Foi Isabel Ferin que ilustrou as novas tendências na representação social dos media sobre o fenómeno da imigração, ela que tem já vários estudos dedicados ao assunto (recordo textos publicados nas revistas Observatório e Media & Jornalismo). Assim, ela e a sua equipa consideram que os media estabelecem: 1) reconhecimento da cidadania das segundas gerações (em especial as de origem africana); 2) referências significativas a novas comunidades, como a chinesa, a do norte de África, indiana e paquistanesa; 3) abordagem do terrorismo (dada a actual agenda internacional); 4) referência crescente à integração; 5) crescente acesso de especialistas ao espaço público. Na opinião da professora de Coimbra, estas notas de conclusão são boas notícias. Isto é, embora os media não se substituam à realidade, dada a sua natureza da construção social da realidade, há nos media (em especial a imprensa) a noção de uma "boa" representação dos media. Assim, a tolerância, a aceitação da diferença do Outro que vem trabalhar e viver para o nosso país, significa um bom acolhimento e um passo para a sua integração.

O trabalho de observação dos media quanto à imigração e minorias étnicas, de Isabel Ferin e colegas, vai prolongar-se por este ano, pelo menos.

RÁDIO

Nos últimos três dias, o blog Jornal Rádio tem feito referência à venda da rádio de S. Mamede, de Portalegre, por menos de €250 mil. A S. Mamede é, segundo o blog, "constituída pelas seguintes estações: 88.9 Portalegre que emite a Rádio S. Mamede, 106.2 Alter do Chão que emite a Rádio Álamo do Alter, 90.1 Fronteira que emite a Rádio Nobre Fronteira e 98.5 Gavião que emite a Rádio Gavião. Todas estas frequências fazem parte do distrito de Portalegre e são bem sintonizáveis nesta cidade". O blog admite a possibilidade de vários grupos estarem interessados na aquisição da rádio de S. Mamede e associadas, como a Renascença (para ampliar a Mega FM), a TSF (interessada numa rádio de cobertura nacional), a Media Capital (para retransmitir a Cidade FM) e a igreja IURD.

O mercado de rádio, como outro qualquer, é livre; logo, compras e vendas podem fazer-se sem quaisquer entraves. Contudo, neste caso, os proprietários da S. Mamede e associadas compraram as licenças para fazerem rádios locais. O caminho que parece estar a ser seguido é o do desaparecimento dessa possibilidade, tornando-se este importante meio de comunicação uma mera retransmissão de rádios nacionais irradiando a partir de Lisboa. O que retira a especificidade local, para a qual a lei da rádio foi feita.

Sem comentários: