CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA COVILHÃ
A SOPCOM está a promover o seu III Congresso de Ciências da Comunicação, na Covilhã, desdobrado em dois encontros, o VI Lusocom e o II Ibérico, reunindo investigadores portugueses, brasileiros e das línguas da Espanha. De 21 a 24 de Abril, o evento terá cerca de 800 participantes, segundo a organização, o que o torna o mais importante na história portuguesa das ciências da comunicação.
Eu assisti a parte significativa do congresso luso, aglutinando portugueses e brasileiros, e apresentei uma comunicação na mesa de Jornalismo, sobre Alberto Bessa e o seu livro de jornalismo, editado faz agora cem anos [a organização forneceu um CD-ROM, mas o meu texto não aparece. Sei que o enviei a 7 de Março, pelas 19:53, para o endereço electrónico da organização, mas esta deve ter-se aproveitado da minha momentânea desorganização e não o colocou. Mas prometo lutar pela sua publicação].
Do que vi e gostei
A comunicação de abertura de António Fidalgo, professor da Universidade da Beira Interior e responsável pela organização do congresso, foi vigorosa. Parte do seu discurso dirigiu-se para a Fundação da Ciência e Tecnologia, ali representada pela vice-presidente, que tomou muitas notas na ocasião. Referiu-se nomeadamente à questão dos júris de avaliação dos projectos e dos centros de investigação em ciências da comunicação. Se, até 2002, não havia um júri autónomo para a área, tal modificou-se o ano passado. Mas o júri foi constituído por investigadores oriundos do norte da Europa, alheios à realidade das línguas ibéricas. António Fidalgo pediu que o próximo júri tenha elementos das línguas da Península Ibérica, no que foi acarinhado pelos congressistas. Claro que não podemos escamotear a hegemonia dos falantes do inglês, pelo que deve haver uma ponderação de critérios.
Das comunicações em mesas que assisti quero salientar as de Paulo Ferreira e Silva, sobre imprensa regional portuguesa, e de Elizabeth Saad Correia, sobre linguagem da informação digital. Jornalista e a desenvolver uma tese de mestrado na Universidade do Minho sobre a imprensa regional, Paulo Ferreira e Silva demonstrou como pesam os actores nas decisões na imprensa regional. O seu estudo começa em 1974. Para o congressista, haver bons jornais de proximidade (regionais) quer dizer boa informação local. Há, neste momento, 30 diários e cerca de 900 títulos de imprensa local e regional, sendo 2/3 destes últimos subsidiados pelo Estado. O texto de Paulo Ferreira e Silva mergulharia, depois, na política do porte pago e considerou que este é um factor de constrangimento na evolução e desenvolvimento dos jornais, pois tem permitido a sobrevivência de muitos desses títulos.
A apresentação de Elizabeth Saad Correia partiu da análise feita aos sites noticiosos, concluindo que há uma inexistência de padrão editorial, independente da página corporativa, com diferentes hierarquias e emprego de fontes extra-redacção. Elizabeth Saad desvendou alguns dos pressupostos - o que entendemos por linguagem, o que é o campo do jornalismo - e encara que ainda vivemos num estágio de pré-amálgama entre meios e suportes, mas onde se mantêm os valores-notícia e a ética como elementos do ciberespaço mas se perderam já os parâmetros físicos da medição do tempo e do espaço jornalísticos. Elizabeth Saad Correia é professora livre-docente do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, da Universidade de São Paulo, pesquisadora e consultora na área de comunicação digital, nomeadamente no blog Intermezzo. A docente e comunicadora lançou no congresso um livro seu, mas que me foi impossível assistir dado ter de vir para Lisboa, onde me esperava um compromisso profissional. Espero que tudo tenha corrido bem com ela.
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