A ESCRITA PARA O ECRÃ DE TELEVISÃO
Neste pequeno mas muito curioso livro, disponível ao público desde a presente semana, Laura Fernanda Bauder estuda a passagem do texto literário para o ecrã. Melhor dizendo, relaciona o mundo ilusório da ficção com o mundo virtual do audiovisual. O que implica o conhecimento das relações entre palavra escrita e imagem sonora, entre sistema sígnico verbal e conceptualizante e sistema sígnico (visual, sonoro, verbal e icónico).
A autora opõe dois autores, Marshall McLuhan e Raymond Williams, apesar de fazer uma igual apreciação. O primeiro ganharia nas suas profecias, quando anunciou uma nova época – a idade mágica da implosão eléctrica e da utopia tecnológica, marcada por sincronizações perfeitas, oportunidades educativas e autonomia artística. Além de analisar os dois autores, Laura Bulger juntou a mini-série televisiva portuguesa O Conde de Abranhos (de Eça de Queirós), com argumento de Francisco Moita Flores. Apesar do pouco espaço, trata-se de uma das partes mais significativas do texto, em que se identifica a novela claramente com os traços do género: brevidade, simplicidade, acção centrada numa figura primordial, referencialidade histórico-social. Na sequência, a professora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro defende haver dimensão estética - semelhante às grandes obras literárias - em séries, mini-séries e telefilmes produzidos directamente para o pequeno ecrã.
Apesar de defender que a imagem da escrita no pequeno ecrã é prova da convivência feliz da literatura com o meio electrónico mais popular e manipulador (p. 45), Laura Bulger aponta diversas dificuldades que surgem nessa transposição, em especial as relacionadas com sumários espácio-temporais, intrusões narratoriais ou representações dos estados mentais da personagem.
Uma crítica ao livro apenas: as notas de rodapé, excelentes numa tese, não têm justificação aqui, num texto de perto de 50 páginas. Algumas ocupam mais de meia página, o que dificulta obviamente a leitura.
Livro: Laura Fernanda Bulger (2004). A imagem da escrita no pequeno ecrã. Coimbra: MinervaCoimbra
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