OS ANOS DO MUSEU DA RÁDIO
Faz hoje doze (12) anos que abriu as portas o Museu da Rádio. Escreve Matos Maia no seu livro Telefonia (Círculo de Leitores, 1995, p. 296): "O Museu foi uma ideia do Rádio Clube Português, na década de 60 [...]. [Ela] partiu de José do Nascimento, quadro superior do Rádio Clube Português [...]. Desde a primeira hora, colaboraram com José do Nascimento, no projecto, outros dois colegas do RCP: Manuel Bravo e Armando Leston Martins". Depois, seguiram-se várias vicissitudes, acabando o Museu por ser inaugurado em 14 de Maio de 1992. O museu tem cerca de cinco mil peças e recebe anualmente à volta de doze mil visitantes.
Na hora em que se comemora o 12º aniversário, há nuvens muito toldadas quanto ao seu futuro. A notícias editada no jornal Público, do passado dia 1, não foi ainda desmentida pela administração da RTP, proprietária do museu. Para além da possível transferência do património para o Museu das Comunicações, a notícia informa que uma parte do acervo pode ir para a sucata, o que seria lamentável.
Apelo ao bom senso de quem manda nestas coisas para que repense o futuro de tão importante museu. Peço a todos os internautas que consultem o blogue A Minha Rádio e assinem a petição. Por favor, visitem ainda o sítio Rádio no Sapo.
MEMÓRIAS DA RÁDIO NO PROGRAMA JARDIM DA MÚSICA
Na última segunda-feira, no programa de Judite Lima, Jardim da Música (Antena 2), Eduardo Street continuou a falar das memórias da rádio. Ele referiu-se a um programa de 1955, Viagens da Terra à Lua, de Pedro Moutinho, o qual ganharia o segundo lugar no Prémio Itália para a radiodifusão. Dois anos antes do lançamento do primeiro Sputnik e a uns anos largos da primeira viagem a sério até à Lua, a Emissora Nacional usava seis gravadores para criarem o efeito dos sons dos propulsores dos foguetões espaciais. Era um tempo magnífico para a ficção científica.
Para a próxima semana, Eduardo Street falará dos 60 anos da RDP. Foi no ano de 1934 que a então Emissora Nacional começou a emitir ainda em fase de experiências.
FERNANDO CORREIA EDITA LIVRO SOBRE A RÁDIO
O conhecido radialista Fernando Correia acaba de lançar um livro intitulado A rádio não acontece...faz-se. Nomeadamente na antiga Emissora Nacional, depois Antena 1, conservo ainda no ouvido os seus relatos desportivos, de uma rara beleza [por vezes, eu confundia a sua voz com a de Artur Agostinho, outro grande relator desportivo da rádio portuguesa]. Ainda hoje, Fernando Correia anima o programa Bancada central na TSF, um fórum à noite sobre desporto, mas em especial sobre futebol. Fernando Correia é ainda professor do Instituto Piaget, em Almada, na área das Ciências da Comunicação.
Ora, o que diz este livro? Ele é "uma tentativa de difusão do conhecimento adquirido ao longo dos anos, de muitos anos, na rádio, nos programas, nas reportagens, nos espectáculos, no jornalismo radiofónico e no contacto com as pessoas e é, também, a forma de contar algumas histórias" (p. 7).
Para a rádio entrou em 1958: "Regressei [de Londres] para ingressar no SNI - Secretariado Nacional de Informação, como locutor, e para fazer concurso de admissão à Emissora Nacional de Radiodifusão" (p. 13). No concurso ficaria em primeiro lugar. Mais tarde, percorreria, como repórter da guerra colonial, Angola, Moçambique e S. Tomé e Príncipe.
Sobre a rádio dos anos 60, Fernando Correia destaca a Emissora Nacional, que "tinha a vantagem de contar com as melhores vozes (locutores), vindos de uma cuidada selecção e de concursos sobre concursos, com proveniência, em muitos casos, da Rádio Universidade (que emitia em horários próprios numa frequência da E. N.) ou do Secretariado Nacional de Informação (SNI)" (p. 51). E o autor evoca nomes como os de Maria Leonor, Etelvina Lopes de Almeida (desaparecida a semana passada), Artur Agostinho, Pedro Moutinho, Amadeu José de Freitas, Domingos Lança Moreira, Nuno Brás, Carlos Cruz e Romeu Correia, nomes que também guardo na minha já longa memória.
Por oposição, escreve sobre a rádio gira-discos: "contrapontos inevitáveis, numa situação de comodismo, facilitismo e refúgio [...]. Foram as rádios gira-discos que quiseram concorrer apoiadas no consumo de adolescentes e jovens. Os exemplos estão aí: RFM, Rádio Comercial, Antena 3 e uma nova versão do saudoso Rádio Clube Português que substituiu a Rádio Nostalgia" (p. 95). E Fernando Correia defende a reportagem radiofónica, o sector mais atractivo do meio, "por corresponder a um acto jornalístico completo", pois "encerra escrita, observação, análise, procura, poder de descrição, fluência e bom senso" (p. 83). Entre outras, recorda as reportagens da visita da rainha da Inglaterra, Isabel II, ainda nos anos de 1950, a partida dos primeiros contingentes para Angola, onde deflagrara a guerra em 1961, e os incêndios do Teatro Nacional D. Maria II e da Igreja de São Domingos.
Tenho uma grande admiração por este profissional da rádio. Mas, como em tudo na vida, há coisas que enjeitamos. Comigo, acontece com o que Fernando Correia escreve sobre o ensino (pp. 14-15). Ele considera que a Escola (presumo que a Universidade) tem "pessoas cheias de boa vontade que empinaram uma montanha de teoria que, na prática do ensino, não lhes serve de nada. O que acontece a seguir? Na maioria dos casos, a rejeição dos alunos, ou a formação de alunos que não vão conseguir arranjar emprego em parte alguma". E escreve ainda: "quase todos os professores não estão à altura das necessidades do ensino, porque não têm prática". Não podemos confundir a Universidade - espaço de saber e de especulação - com escolas profissionais, de ensino vocacionados para a "resolução de problemas de ordem técnica", como se lê no seu livro. É provavelmente a grande mistificação do nosso tempo.
Livro: Fernando Correia (2004). A rádio não acontece... faz-se. Lisboa: SeteCaminhos. Preço: €14,50.
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