terça-feira, 29 de junho de 2004

FOTOGRAFIAS DE OCASIÃO

Ainda na revista Trajectos, há três dias referida aqui, destaco um texto de Paula Figueiredo, em que descreve e analisa a captação de imagens fotográficas snapshot, a partir da banalização do uso da máquina fotográfica. A palavra snapshot seria traduzida pela autora por imagem de ocasião, "não composta, emotiva e instantânea, sem necessitar de conhecimentos técnicos prévios" (p. 11). Isto é, habilita o indivíduo sem conhecimentos técnicos específicos para a produção de imagens, tornando "actor e espectador da cultura visual contemporânea", resultado da produção de imagens cinematográficas, televisivas e telemáticas, hoje ampliadas com as câmaras digitais, que, além de imagens fixas, permitem fazer pequenos vídeos digitais de alguns minutos. E que se colocam nos fotoblogues, num sentido de perda da intimidade e passagem para o público: a paisagem, a flor, a ponte sob nevoeiro, o momento de espera numa fila de automóveis na autoestrada, os dedos pintados ou com um anel e tatuagem, dentro das sandálias.

É a imagem do quotidiano, que reproduz um modo de estar e viver (a autora não aborda muito a questão do gosto, transferida para outro texto na mesma revista, pertencente a Andreia Vieira). Se quisermos, é também a imagem de família - a dos nossos álbuns de família, dos antepassados revistos pelas gerações mais novas, ou do nascimento do bebé e do seu baptizado, a festa de anos, a entrada na escola, os retratos tipo passe (para os documentos oficiais), ou ainda as imagens das férias, tudo fazendo parte das biografias pessoais e familiares. Como refere Paula Figueiredo, citando um autor, Boltanski, a imagem do álbum é "uma imagem doce, a qual é igual para todos. Qualquer um se reconhece num álbum de família".


Há um ponto particular neste texto de Paula Figueiredo - que trabalha no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, organismo que recomendo vivamente -, que é o do banal na fotografia de autor. São imagens de artista, que revêem o quotidiano nas suas expressões mais banais, às vezes não actuando como "voyeur" ou "penetra", mas parecendo-o. Algumas imagens são perturbadoras da intimidade de familiares e amigos, de violência até, caso de Nan Goldin (primeira imagem, obtida no sítio Artnet.com Magazine), de família (o crescimento dos filhos) como em Sally Mann (segunda imagem, obtida no sítio Sally Mann Photographer) ou "encenadas" como em Philip-Lorca diCorcia [última imagem, pertencente ao NYIP, que autorizou a reprodução ("reprinted with permission from a monthly edition of the New York Institute of Photography's web site")].











Leitura: Paula Figueiredo (2004). "Fotografia de ocasião, imagem privada". Trajectos, 4:9-18

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá!
Antes de mais quero felicitar-te pela leitura do artigo da paula figueiredo! Gostei imenso! Encontrei-o por acaso quando procurava contacto da paula figueiredo... Sou da àrea das Ciencias Sociais e um entusiasta da fotografia e dos seus usos... Se por acaso souberes o mail da Paula Figueiredo ou quizeres fazer algum comentário ao meu comentário :) escreve para cakiuska@graffiti.net.
Obrigada!

Anónimo disse...

Olá!
Antes de mais quero felicitar-te pela leitura do artigo da paula figueiredo! Gostei imenso! Encontrei-o por acaso quando procurava contacto da paula figueiredo... Sou da àrea das Ciencias Sociais e um entusiasta da fotografia e dos seus usos... Se por acaso souberes o mail da Paula Figueiredo ou quizeres fazer algum comentário ao meu comentário :) escreve para cakiuska@graffiti.net.
Obrigada!