quarta-feira, 2 de junho de 2004

PIONEIROS DA RÁDIO

"Por volta de 1923, três estudantes do Instituto Superior Técnico preparavam-se para um exame de frequência, numas águas furtadas da Rua Capelo, em frente ao Governo Civil, em cujo telhado se viam os guardas no seu quarto de sentinela. Estávamos em plena época das revoluções. Nos intervalos do estudo, juntavam-se próximo duma janela, com auscultadores nos ouvidos e ar atento. Um deles tinha construído um receptor de Telegrafia sem fios - era assim que se dizia - e os rapazes, a determinadas horas, não escondiam o seu júbilo quando ouviam os sinais horários da Torre Eifel. Grande acontecimento esse!

"Um belo dia, no melhor da festa, batem à porta com tom decisivo e três agentes da Polícia entram resolutamente por casa dentro, com cara de poucos amigos, para averiguar o que era aquilo. Os rapazes ficaram petrificados! Mas quando um dos agentes se precipita para junto da aparelhagem, o mais atrevido dos estudantes, atravessa-se-lhe no caminho, de braços abertos, gritando: Alto! cautela com a self-indutância!...

"Houve um momento de hesitação, que serviu para os agentes reflectirem que havia ali alguma coisa que eles não dominavam por completo com a sua autoridade, e em que o tal mais espevitado aproveitou logo para explicar o que era, quem eram os conspiradores, etc., etc.

"Passados poucos minutos, todos à vez, ensaiavam os auscultadores e adivinhavam, maravilhados, através de uns débeis traços pontos do código Morse, os sinais horários da Torre Eifel. Os agentes acertaram os relógios e deixaram os estudantes em paz".

Citação do livro de Manuel Bivar (s/d). A televisão em Portugal. A fase inicial. Reflexos sobre o futuro. Edição da C.P.R.T.P. [o engenheiro Bivar foi, durante muitos anos, um dos principais dirigentes da Emissora Nacional].

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