TEORIAS SOBRE A NOVA IDENTIDADE DO JORNALISTA
Este é o título do terceiro capítulo do livro de Mª Bella Palomo, El periodista on line: de la revolución a la evolución, editado durante o presente ano em Sevilha. E o que é que diz a jovem investigadora e professora de Tecnologia da comunicação jornalística e estrutura geral dos sistemas dos media (Universidade de Málaga) nesse capítulo, que ocupa as páginas 45 a 55?
Começa por definir novos nomes ao profissional das empresas digitais puras. Assim, David A. Patten prefere a designação de tecnojornalista ou telejornalista, apostando na reinterpretação do seu trabalho. Já Ignacio Ramonet vê o novo profissional como instantaneista, o analista do instante, ou imediatista, o analista do imediato. Se para Fernandéz Hermana, o jornalista se converte em cartógrafo, pois a envolvente digital ainda está em construção, Alfons Cornellá inventa o conceito de infonomista, aquele que estuda as estruturas comunicacionais e desenha economias e fluxos de informação. E, enquanto Quim Gil anota o nome jornalismo em rede ou digital, a autora deste livro afasta-se da identidade digital, porque não é de âmbito tão amplo como acha que a actividade se desenvolverá. Por isso, aposta em jornalista on-line, aquele que manipula produtos de conversão binária, desde o fotojornalista com câmara digital ao editor de vídeo e ao redactor de uma página web.
Bella Palomo apropria-se e desenvolve uma interessante categorização produzida pela City University de Londres (p. 48). Assim, distinguem-se:
I – Utilizadores (usuários)
a) Devoto da rede – jovem freelance, que desenvolve o seu trabalho nos novos media, mas não ocupa lugares de destaque. Ele identifica a internet como uma fórmula de alargar a democracia,
b) Economicamente direccionados – obtêm da internet informação que seria cara por outras vias. Operam por questões de poupança, redução de custos e para não ficarem fora do mercado. Podem ocupar cargos de relevo e trabalham em pequenos diários,
c) Pragmáticos – incorporam a internet na sua lista de fontes de informação. Trabalham em media nacionais e regionais,
d) Pesquisadores ocasionais – recorrem à internet quando falham os outros recursos. A causa da sua aplicação intensiva é a restrição nos acessos e a falta de formação.
II – Não utilizadores (não usuários)
a) Novatos entusiastas – têm mais de 50 anos ou são recém-licenciados. Desconhecem realmente as possibilidades da rede, mas isso intriga-os,
b) Não crentes – não lhes interessa a rede, porque desconfiam da autenticidade dos dados,
c) Dinossáurios ressentidos – opostos ao devotos. Para eles, a internet representa uma ameaça ao seu acesso privilegiado à informação e não desejam revelar as suas fontes.
Nesta espuma de designações alguma há-de ficar para o futuro. Penso que jornalista continuará a ser uma boa designação, mas não sei prever, eu que gosto mais do mister de historiador. Daí que Bella Palomo eleja também designações mais conservadoras, ainda com base em autores do seu país. Caso de Victor Puig, para quem jornalista digital quer dizer aquele que utiliza meios digitais para obter e trabalhar a informação, gerando conteúdos que serão publicados em meios digitais, em on-line e off-line. Já Próspero Morán entende que o jornalista digital apresenta uma ampla formação humanística, capaz de entender e aceitar a interculturalidade do mundo virtual.
Há, em tudo isto, um dilema. Será o jornalista-orquestra bom em todas as áreas? Parece que uns têm melhores capacidades de escrita ou dicção e outros superiores conhecimentos de informática ou com uma presença televisiva mais agradável. Mas o balanço é sedutor: a combinação de competências trará maior performance ao profissional, até porque novas capacidades (habilidades) revalorizam a posição no mercado de trabalho. E Maria Bella Palomo aponta o exemplo clássico do correspondente de um jornal: ele desempenha de igual modo as várias actividades que forem precisas executar.
Curiosa a observação sobre a realidade dos Estados Unidos (p. 47). Para evitar conflitos com os sindicatos, os novos profissionais dos media não usam os termos de jornalista, editor, redactor ou repórter, mas o de produtor, conceito ambíguo sem dúvida.
O livro tem prólogo de Bernardo Díaz Nosty, catedrático de Tecnologia da Informação na Universidade de Málaga, e cérebro do sítio Infoamerica, que tenho aconselhado vivamente. El periodista on line insere-se numa colecção nova, onde se inclui o livro do nosso colega e amigo Jorge Pedro Sousa, professor da Universidade Fernando Pessoa (Porto), na sua tese de doutoramento, Historia crítica del fotoperiodismo occidental. Para quem quiser saber mais, clicar em Comunicación Social Ediciones y Publicaciones. O blogue brasileiro Intermezzo, referenciado pela autora, já fez uma alusão ao livro no dia 14 do presente mês.
Livro: Mª Bella Palomo Torres (2004). El periodista on line: de la revolución a la evolución. Sevilha: Comunicación Social, Ediciones y Publicaciones. 163 páginas. Preço em Espanha: € 11,50.
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