terça-feira, 20 de julho de 2004

NOTÍCIAS SOBRE O COLESTEROL

Na passada sexta-feira, dia 16, intitulava o jornal Público uma notícia: Níveis de colesterol vão baixar. Escrevia-se na mesma que "O nível máximo do «mau» colesterol (de baixa densidade ou LDL) actualmente recomendado para pessoas consideradas como pacientes de alto risco (doença cardíaca, hipertensão ou risco de acidente vascular cerebral) é de 100 mg/dl de sangue. Nos Estados Unidos, o valor recomendado era o mesmo, mas na terça-feira as autoridades de saúde baixaram-no para 70 mg/dl". Como origem da alteração, estavam cinco estudos clínicos que demonstravam que os níveis antigos de colesterol não garantiam a redução de riscos de acidente cardíaco. O jornal ouviu o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, o qual admitia que as autoridades nacionais seguissem as suas congéneres americanas.

Ontem, dia 19, no Diário de Notícias surgia uma outra notícia sobre o mesmo assunto, assinada por Manuel Ricardo Ferreira, correspondente do jornal em Nova Iorque. O artigo começa do seguinte modo: "Seis dos nove peritos que estiveram na base da redefinição dos níveis de colesterol - em particular os que são aconselhados a pessoas em risco de contrair ataques cardíacos. As acusações surgem porque estes médicos têm ligações a empresas farmacêuticas que produzem os medicamentos anticolesterol que permitem obter esses valores mais baixos". Da notícia também se obtém a seguinte informação: "os media revelaram que os seis peritos visados receberam verbas das farmacêuticas como consultores, por fazerem discursos ou fazerem investigação". Há, neste momento, 36 milhões de americanos a tomar regularmente medicamentos para baixar o colesterol, e os novos níveis levariam mais sete milhões a seguir o mesmo caminho.

Num texto que tenho trabalhado ao longo dos anos por razões académicas, o de Harvey Molotch e Marilyn Lester, As notícias como procedimento intencional: acerca do uso estratégico de acontecimentos de rotina, acidentes e escândalos (no livro de Nelson Traquina, Jornalismo: questões, teorias e "estórias", 1993), os autores falam em promotores que veiculam determinados assuntos por interesses próprios. E o crescente grupo dos que têm colesterol "mau" (maus hábitos alimentares, sedentarização) - ou de qualquer outro problema de saúde - fica refém de tais notícias.

MEDIA, JORNALISMO E DEMOCRACIA

Este foi o título do seminário internacional realizado em Março de 2000, para comemorar os 25 anos da lei de imprensa portuguesa, organizado pelo CIMJ (Centro de Investigação Media & Jornalismo), e editado em livro pela editora Livros Horizonte em 2002.

Recordo aqui alguns dos recortes de imprensa [clipping], editados no Diário de Notícias e no Público, que relatam o acontecimento:

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Faço ressaltar aqui algumas palavras de António Sousa Franco, um dos artífices da lei da imprensa e recentemente desaparecido do nosso convívio: "A necessidade de uma lei de imprensa, para que apontava o programa do MFA, foi, de algum modo, questionada logo no primeiro governo provisório, apesar de a comissão ad hoc ter sido constituída pelo segundo governo provisório" (Media, Jornalismo e Democracia, 2002. Lisboa: Livros Horizonte, p. 125, texto publicado mas não revisto por Sousa Franco). Mais à frente, o professor de direito recordava ainda: "Outro ponto relativo à genese da lei é que (e eu vou apenas de algum modo mencionar algo que, se eu contasse, esgotaria a comunicação) assisti, na qualidade de presidente, a várias sessões do Conselho de Ministros, longas e, em alguns casos, tempestuosas, em que o projecto foi discutido. E a discussão de fundo foi bastante mais violenta e alargada daquilo que consta na imprensa. É um relato que valerá a pena um dia desenvolver" (idem, pp. 125-126).


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