sábado, 28 de agosto de 2004

SOBRE UMA MANGA CHAMADA NANA

Em 13 de Abril de 2004, coloquei um post intitulado belezas digitais. Partira de um livro de Julius Wiedemann, já editado este ano e com o título Digital beauties. 2D and 3D computer generated models. Virtual idols and characters. De entre as belezas que referenciei, escrevi sobre Nana: "tem sido apresentada como celebridade em revistas e programas de televisão [...]. Pertença da agência de modelos digitais Japan Audio Visual Workshop, sediada em Tóquio, os nomes dos criadores de Nana permanecem em segredo. Ela é uma humanóide, com 17 anos e 1,60 metros, estudante liceal. O seu sonho é ser top model, cantora e actriz, exactamente o padrão dos ídolos virtuais japoneses".

Hoje, vou falar da Nana, desenhada por Ai Yazawa, como ela aparece nas mangas (que são bandas desenhadas, revistas ou livros japoneses publicados com uma periodicidade semanal ou mensal). Isto quer dizer que o autor está, afinal, pelo menos na manga, bem identificado. Escolhi o volume 9 (a imagem conjuga a capa e a contracapa do livro).

nana.JPG

Um estilo de vida

Nana é uma manga - que, como qualquer outra, se lê de trás para a frente - onde se fala de amor, amizade, juventude japonesa, moda e música. O presente volume retoma a história de duas jovens, Nana Komatsu e Nana Ôsaki, que se reencontram por acaso no comboio que as leva a Tóquio, e alugam um apartamento. Ambas falam do corte com os seus namorados e de novos conhecimentos masculinos. Mas tudo separa as duas raparigas, das ideias à origem social. Se Ôsaki quer que a sua banda musical Blast triunfe, após a assinatura de um contrato provisório com uma grande discográfica, e concorra com a Trapnest, Komatsu descobre que está grávida do namorado com quem rompera. A decisão de ter a criança foi difícil e o casal reencontra-se. O volume agora editado dá conta do novo equilíbrio relacional nos elementos do grupo.

Há aqui patente um fundo moral que não se encontra noutras mangas, onde o tema central é a violência. Não é um fundo moral vitoriano, mas adaptado a novos valores. Nana orienta-se para um público adolescente, não apenas nipónico mas universal. Aliás, os desenhos de Ai Yazawa mostram jovens com traços fisionómicos mais aparentados com os caucasianos que com os originais do seu país. Os encontros e desencontros e as soluções desenhadas pelos próprios intervenientes, sem a tutela dos mais velhos, dá esse ar de autonomia que os adolescentes querem.

Fala-se esporadicamente, na história de Nana, dos pais daqueles jovens, mas nem uma só vez eles aparecem realmente. São os outros que se falam mas não intervêm. As personagens da série são freeter (contracção da palavra inglesa free (livre) com a palavra alemã arbeiter (trabalhador) [em japonês, pronuncia-se fulitâ], ou trabalho parcial em português. O freeter é uma situação que envolve muita gente entre os 15 e os 35 anos, e cujo emprego precário dá para comer e pouco mais. Quase todos os amigos e colegas de Nana são freeters.

O número tem um bónus especial, com algumas páginas a cores, contando uma nova história. Comprei a edição francesa na FNAC. O mercado das mangas em Portugal - pelo menos, o que eu conheço - tem edições de mangas em francês. Curioso, o mercado espanhol tem publicado mangas em castelhano, saídas já este ano de 2004, por jovens editoras de Barcelona e Valência, por exemplo, o que mostra a vitalidade deste sector das indústrias culturais no país vizinho.

A editora francesa de Nana tem um sítio, Akata, onde se obtém muita informação sobre esta e outras mangas, bem como um clube de fãs e um fórum de discussão. O primeiro volume desta história apareceu em Outubro de 2002, e projecta-se um número especial para Novembro próximo. Atenção, fãs, a esta edição.

Custo da manga: €6,19

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