terça-feira, 19 de outubro de 2004

OS MEUS BLOGUES PREFERIDOS - II

[continuação da mensagem de 16 de Outubro]

Histórias de vida dos blogues

Para a autora de Nocturno com Gatos, uma migração para o sistema de blogues levou-a a eliminar “alguns poemas, por me parecerem demasiado intimistas, baralhei os restantes e acrescentei outros”. Professora do ensino secundário em Benedita, Soledade Santos tem sido desafiada a publicar em papel o que produz virtualmente. A ternura do blogue é o modo de reacção dos seus leitores, através de comentários, a que ela responde. Tal círculo de apresentação de poemas ou imagens lembra as cartas do séc. XVIII e o salão de Mme. d'Épinay. A carta era tida como informação para os jornais, mas também como correspondência culta e de cortesia familiar. No salão de Mme. d'Épinay, que celebrava a arte e a literatura, eram frequentes as primeiras audições musicais e leituras de poemas.

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O bloguista de A minha rádio tem uma história diferente: ao perder a visão há mais de 10 anos, António Silva teve de aprender Braille, dactilografia e mobilidade (usar a bengala), após o que arranjou emprego na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Aqui, forma e dá apoio informático a pessoas com deficiência. Após criar um portal para a deficiência, abriu, em 2002, o sítio A Minharadio e, em Novembro de 2003, o blogue. Conta que o ajudaram alguns amigos que viam e tinham alguma paciência: “como sou radioamador, a informática era de grande interesse para efectuar comunicações digitais, como o Packet Rádio, uma espécie de Internet em versão e velocidade reduzida e outros modos de comunicação”.

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Já Francisco Amaral, a partir de Coimbra, criou um programa radiofónico de culto, o Íntima Fracção, que animou a antena da TSF durante perto de 20 anos. O blogue Íntima Fracção “começou como extensão na net do programa de rádio com o mesmo nome. Neste momento, porque o programa não está no ar há meses, é mesmo a sua continuação on-line” [no seu último post, anuncia a retomada de emissões, agora na RUC - Rádio Universitária de Coimbra, para o final desta semana].

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Das várias definições de blogues que recolhi, uma aponta para o prazer (“não considero passatempo, porque tempo tenho eu a menos, e muitas vezes é do tempo do descanso que eu retiro tempo para o blogue”, Maria, arquitecta e bloguista do Puta de vida… ou nem tanto, com residência em Matosinhos). E, para o blogue colectivo Janela Indiscreta, cujos mentores vivem no Porto e em Lisboa, a actividade significa gostar “de demasiadas coisas, literatura e cinema entre elas” (Cristina Fernandes) e fazer “tudo pelo combate diário pela felicidade” (Tó Rebelo). Com estruturas informais, produtores de informação e dinamizadores de um novo público de cultura, os blogues explicam assim o seu sucesso recente, levando a pensar estar-se para além de uma simples moda.

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