SILÊNCIO PESADO
O Público de hoje dá conta da recusa de Clara Ferreira Alves para ocupar o lugar de directora do Diário de Notícias, a partir do comunicado ontem emitido por ela, e que eu já fiz aqui referência. E conta pormenores de envolvência do caso, em especial os dois últimos parágrafos. Para além das preocupações e/ou reflexões por mim feitas então, quero acrescentar outra, ao ler o Diário de Notícias, ele próprio no centro do turbilhão.
A edição de hoje deste jornal é omissa quanto à questão. O que levanta uma situação muito incómoda. É como se ela não existisse. Dito de um modo simplista: só é acontecimento o que é notícia. Para o Diário de Notícias, como não foi notícia significa que não existiu. Ou seja, está proibido de falar do sucedido. Parece haver um silêncio brutal na redacção; pelo menos, nenhum jornalista comentou o assunto nas suas páginas.
É confrangedora tal situação. O editorial, não assinado, fala de uma nova legislação do emprego e das crianças. Assunto importante, mas não aquele que o editorialista deveria escrever: da sua casa, dos problemas que a afectam, da sua posição perante esses problemas.
A direcção do jornal pode escudar-se no silêncio - eu chamo luto a esta situação -, dizendo que tal diz respeito a outra entidade, a administração. E que não comenta as decisões tomadas pelos proprietários. Mas sabendo nós como são fortes os vasos comunicantes entre direcção e administração, custa ver esse manto pesado de silêncio. Primeiro, porque no jornal trabalham grandes profissionais, que não podem expressar a sua opinião. Depois, porque os leitores sinceros do jornal querem conhecer a posição oficial sobre o caso. Isto sem falar dos accionistas, dos anunciantes, e até do vendedor do quiosque.
Paradoxo dos media: raramente um meio de comunicação se exprime quando se trata de falar dos assuntos internos. Precisamos de ler outros meios de comunicação para termos conhecimento adequado do que se passa.
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