AUDIÊNCIAS E VIDA QUOTIDIANA
Pelo facto de existirem comunidades na internet isso não quer dizer que a natureza própria da internet seja a constituição de comunidades. Sabe-se que parte do interesse dos fóruns anónimos reside no desempenho de papéis e múltiplas identidades que eles permitem (Turkle, 1997). Os utilizadores dos computadores podem ver estes como dando liberdade, criatividade, fantasia e prazer, mas também participam na tecnologia e na “vida real” de múltiplos modos. Muitos intervêm em chats anónimos, são membros de outros grupos de email a que se juntam por questões profissionais ou de informação, ou salientam o facto da comunicação electrónica diária ser apenas um elemento nas suas vidas. Assim, as comunidades de internet e as comunidades reais desenvolvem-se em resposta a circunstâncias particulares e às necessidades de um conjunto particular de indivíduos.
Os fãs que se juntam a uma lista de discussão da internet constituem um conjunto particular de indivíduos que vêem um programa específico e usam a comunicação electrónica. Os fãs devotados desenvolvem um sentido de relação com os seus actores/actrizes. Bird refere que a relação entre actor e fã é, na idade da electrónica, bastante complexa e volátil.
A comunidade online opera para uma audiência de fãs, sabendo que os outros fãs actuam como leitores nas especulações, observações e comentários (Hills, 2002: 177). As comunidades virtuais não funcionam do mesmo modo das comunidades locais. Por um lado, as comunidades virtuais são de “baixo risco”. Numa comunidade virtual, não somos forçados a lidar e interagir com pessoas que não gostamos. Apesar dos grupos virtuais trabalharem para manter a comunidade, qualquer indivíduo que perca interesse na comunidade sai dela e procura outra.
A comunicação de email depende da palavra escrita, faltando-lhe os sinais orais e visuais da comunicação face-a-face. Isto cria a possibilidade de construir uma ou mais personalidades completamente diferentes, como acontece nos MUD (Multi-User Dimensions). Uma utilizadora adolescente, por exemplo, estabeleceu relações com mulheres muito mais velhas que ela, o que é improvável acontecer na “vida real”, pois as pessoas criam distâncias baseadas na idade, aparência e modo de vestir. O resultado é que a comunicação de email permite às pessoas ultrapassarem distâncias inconscientes sobre raça e outros “marcadores” externos. Algumas barreiras que funcionam na vida real, e que impedem a comunicação, podem desaparecer na comunidade virtual.
Leitura principal: S. Elizabeth Bird (2003). The audience in everyday life. Living in a media world. Nova Iorque e Londres: Routledge
Leituras de apoio: Sherry Turkle (1997). A vida no ecrã. Lisboa: Relógio d’Água
Matt Hills (2002). Fan cultures. Londres e Nova Iorque: Routledge
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