ANONIMATO E INTERNET
No lançamento do livro de José Pedro Castanheira (No reino do anonimato), no começo desta semana, José Pacheco Pereira - o apresentador do livro - fez uma incursão no terreno do anonimato e das tecnologias associadas à internet. Para o historiador e político, animador do blogue Abrupto, os comentários nos jornais electrónicos (e nos blogues) são uma actualização tecnológica face às cartas do leitor. Além disso, existe um diálogo entre o artigo, o comentário e outros comentários.
A internet ocasionou o aparecimento de muitos livros e ensaios. Podemos dividir essas edições em duas perspectivas distintas e opostas - continuo a referir o apresentador do livro, Pacheco Pereira. Por um lado, surgiram os optimistas ou integrados (designação de Umberto Eco), para quem a internet significava o fim dos livros e dos jornais e, também, o fim da democracia representativa. A esta ilusão opuseram-se os apocalípticos (também uma designação de Umberto Eco), que chamaram a atenção para o sentimento de falsa proximidade (a ideia de aldeia global de McLuhan). O comentário anónimo, o boato, o ressentimento, a inveja, fazem parte desse lado apocalíptico, para quem a ilusão constitui um engano.
Apesar da tecnologia moderna trazer um alargamento do espaço público, as novas características deste nada significam de novo – o comentário online não é radicalmente diferente dos modos passados de comunicar, mas prolonga a carta (e a transmissão antiga de boatos, rumores, calúnias e maledicências contra o indivíduo).
Assim, a internet seria uma tecnologia que respondia aos problemas da aldeia. Isto é: abandonava-se o cosmopolitismo e as ideias diferenciadas, com respeito e compreensão das opiniões divergentes, e regressava-se a um ambiente fechado, monolítico, da vizinhança, de parecença entre os indivíduos, na sua forma de comentar e actuar na vida quotidiana. Por isso, os comentários anónimos, atentatórios à distinção e variedade, são uma projecção das mentalidades da conversa do café. Ou, na linguagem de Pacheco Pereira, seria típico do comportamento popular, o poder dos que não têm poder. A opinião anónima não acrescenta nada aos jornalistas, mas um tipo de poder dos que não têm poder. Para fazer valer a sua personalidade.
Se é cada vez mais difícil distinguir entre o real e o virtual, a internet introduz um outro efeito, neste caso positivo, seguindo ainda o comentário de Pacheco Pereira na cerimónia de apresentação de um livro. O jornalista encontra uma população qualificada, que acede à internet (e à televisão por cabo) e, por isso, está bem informada e pode verificar se as traduções estão bem feitas. O que quer dizer que há uma vigilância maior sobre o que se produz, uma análise em tempo real do acontecimento e do que se diz sobre ele. A população qualificada é ela própria também produtora. Isto acontece com a informação feita sobre os acontecimentos culturais que os media mainstream não noticiam e que os blogues o fazem.
Claro que a mediação não pode desaparecer, concluiria Pacheco Pereira. É que há, apesar do parágrafo anterior, uma grande iliteracia no modo de ler os media modernos.
1 comentário:
Muito difícil a Internet substituir os meios de comunicação escritos. Primeiro porque, na web, falta credibilidade. Diria que 90% do que se lê em blogs são devaneios e bobagens de quem não tem o que fazer (não encare como uma ofensa, eu também tenho um blog =). Aliás, no meu ponto de vista é um erro abrir facilitar tanto a publicação de material por parte de qualquer um. É como se tivessemos diversos periódicos nas mãos de qualquer "Zé Mané", ou seja, há uma sobrecarga de informações, e o pior é que a maioria é inútil e/ou errada.
Sou um tanto contra blogs, acho que o conceito do mesmo já foi totalmente distorcido desde sua criação, não por culpa dos sites que oferecem o serviço, mas sim da população que não sabe usá-lo. Por essas e outras que devemos primar pela qualidade, e, no que couber, tentarmos nos sobressair dentre tanta porcaria que paira pela Internet atualmente.
Agora, se aceitas um conselho, o primeiro passo para conseguir credibilidade é comprar um domínio (industriasculturais.com, ou industriasculturais.co.pt); não sei porquê, mas as pessoas tendem a acreditar mais nestes sites do que em blogs =)
Atenciosamente,
Alguém =)
http://avidamoderna.blogspot.com
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