CADEIA DE VALOR NA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA
Na investigação sobre cinema tem havido uma grande preocupação sobre os processos de produção do filme mas não sobre as funções do financiamento, distribuição e exibição. Isso elide o peso da análise quanto ao poder e estrutura de governação [governance] que molda a natureza da indústria.
Especialização flexível
Veja-se a reestruturação pós-guerra na indústria cinematográfica americana a partir do conceito de especialização flexível. Nos anos 1970, o sistema de estúdios de Hollywood integrado verticalmente - com a maior parte das funções de produção residentes internamente - começava a ser substituído por um sistema de produção desintegrado verticalmente, através de uma massa flexível de entidades mais pequenas de produção e serviços. Isto é, o papel das grandes empresas diminuía na produção directa e passava para empresas mais diversificadas. Contudo, manteve-se a hierarquia de controlo, com os grandes estúdios a dominarem o financiamento e a distribuição.
O conceito de especialização flexível também se aplicaria à indústria da televisão no Reino Unido, com a desintegração de grandes organizações na indústria televisiva e uma crescente diferenciação de pequenos e especializados fornecedores de serviços. A indústria televisiva do Reino Unido surgia como uma forma de "rede dinâmica", flexível e especializada.
As redes flexíveis assentam na criação de grupos de agentes flexíveis: freelancers especializados, artistas, empresas de serviços, grupos que formam nós em torno do centro produtivo, internos ou externos na sua natureza empresarial. Cada nó tem uma especialização particular e, dado que as organizações múltiplas se tornam envolvidas numa rede, atenuam-se as fronteiras entre estas empresas individuais.
[imagem retirada do sítio Dogville Photo Gallery. O filme Dogville, realizado por Lars von Trier e com Nicole Kidman como actriz principal foi financiado pelo saudita Yeslam Bin Laden, accionista principal da Almaz Film]
Territorialidade e governação
No sistema de produção flexível, as produções de cinema e televisão são ligações de curto prazo em termos de directores, actores, equipas e serviços de subcontratação. Cada profissional tem um contrato negociado entre si, um sindicato ou empresa e a empresa produtora. No sistema de produção flexível, as majors constituem, em última instância, o empregador [contractor], em que se associam vários elementos de pré-produção, produção e pós-produção, num conjunto de pequenas empresas e empregados sindicalizados contratados por uma entidade de produção temporária. A natureza flexível do sistema de produção oferece oportunidades às cidades fora de um centro industrial mediático como Los Angeles, Nova Iorque ou Londres - atraindo um volume considerável de actividade de produção.
Este processo está a mudar a territorialidade do sistema de produção para um modelo de maior dispersão. As fases de produção mais dispendiosas tendem a deslocar-se desses centros nevrálgicos dos negócios dos media para locais de custos mais baixos.
Assim, algumas actividades na pré-produção, todas ou algumas fases da produção e algumas da pós-produção (como passar a filmagem diária para gravação) são realizadas nessas localidades. Mas centros como Los Angeles mantêm o controlo de direitos de autor, financiamento da produção, controlo das redes de distribuição e exibição dos filmes. A governação do sistema de produção está ainda ligada a um pequeno grupo de cidades.
Leitura: Neil Coe e Jennifer Johns (2004). "Beyond production clusters". In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 189-202
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