SOBRE A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
O texto que se segue foi publicado como meu editorial na revista MediaXXI, nº 77, de Setembro/Outubro de 2004:
Em estimulante texto publicado há dois anos, Gustavo Cardoso, com base em reflexões elaboradas por outros investigadores, definia os novos media como aqueles em que existe convergência digital, comunicação de muitos para muitos, interactividade, globalização e virtualidade. Por detrás destas ideias, o jovem professor do ISCTE procurava englobar tecnologias tão diversas como o telemóvel, a televisão digital, as consolas de jogos e a internet. E partia para uma distinção muito útil, a dos media migrados para o digital, como os jornais e rádios on-line e os telemóveis de terceira geração, e os media nascidos no digital, como as consolas de jogos e a comunicação interpessoal da internet (e-mail, chats, newsgroups e as redes surgidas já em 2004 como o Orkut.com e o Multiply.com).
Esta perspectiva tecnologista tem cientistas sociais muito respeitados, caso de Manuel Castells, com uma adequação aos aspectos sociais e económicos. A linhagem tecnológica moderna costuma iniciar-se com Marshall McLuhan, considerado, aliás, o patrono da internet. Tal posição teórica postula a existência de um novo tipo de sociedade, a da informação. Em que as redes electrónicas, especialmente a internet, assumem o papel principal.
É muito estimulante a ideia da sociedade de informação, em que o saber e a comunicação fluem sem barreiras e a uma velocidade nunca vista. Um movimento comercial ou financeiro no Japão pode ter um efeito imediato nos antípodas, uma mensagem do meu blogue tem possibilidades de ser lida simultaneamente em qualquer parte do mundo ou num outro planeta, se aí houvesse um ser inteligente ligado à rede e que compreendesse o português.
No momento em que o uso do Multibanco se banalizou e o endereço de correio electrónico caminha nesse sentido, em que se observa a digitalização e desmaterialização, como as encontradas em publicações electrónicas, com ficheiros PDF e linguagem HTML, e, num futuro próximo, se anuncia a projecção digital do filme na sala de cinema, com o filme analógico substituído por uma mensagem do satélite enviada para uma antena colocada nesse cinema, chega a altura de escrever que estamos no limiar da sociedade da informação. Apesar dos desenvolvimentos desiguais em termos sociais, económicos ou culturais em parcelas grandes do mundo, fala-se com propriedade dessa sociedade da informação.
A revista MediaXXI, ao dar espaço no dossier deste número ao tema sociedade da informação, está a reconhecer o peso da designação. Para além de se referenciar como uma publicação para o ensino e a indústria da comunicação, a sua orientação faz-se também, a partir de agora, para o domínio da sociedade da informação. Mas queremos dar um passo qualitativo. A informação sempre existiu; prova disso é o alfabeto grego, que deu origem à filosofia e à dialéctica da argumentação. Uma tecnologia – seja a rádio, a televisão ou a internet, meios de comunicação que se sucederam no tempo – é um instrumento no armazenamento e distribuição da informação. Mas temos de juntar o conhecimento, o conteúdo da cultura e da cidadania que se transporta nas redes. Assim, talvez seja mais justo referir que vivemos numa sociedade da informação e do conhecimento.
1 comentário:
E, Professor, não deveria a Media XXI estar, também, na rede? Parece-me estranho que uma revista que se dedica a noticiar e a estudar a informação/comunicação não aproveite os recursos da internet (mesmo a pagar...).
Muito mais quando o tema é precisamente "Portugal na rede"...
O assinante da Media XXI...
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