segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

TESE DE MESTRADO SOBRE MEDIA E DEMOCRACIA EM PORTUGAL

Foi hoje defendida a tese de mestrado de Nuno Coimbra Mesquita, sob o título Mídia e democratização em Portugal: do marcelismo à consolidação democrática, no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, recebendo a classificação de muito bom com distinção.

O estudo agora apresentado aborda o papel dos media no processo de democratização de Portugal, indo da liberalização de Marcelo Caetano à consolidação democrática, dentro da óptica da ciência política. O texto começa com o enquadramento teórico dos media e da democracia, trabalha a transição para a democracia e passa os principais tópicos relacionados com os media e a democracia em Portugal após a sua consolidação. Nacionalização e privatização dos media fazem parte desta análise, bem como o impacto da nova imprensa de referência surgida nos anos 1980 e 1990 e o peso das novas estações privadas de televisão.

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[O cartoon, de João Abel Manta, no Diário de Lisboa, de que se reproduz aqui a sua capa, tem a seguinte legenda: Sopeira era a sua avó torta. Eu sou a preparadora dos géneros alimentícios. As mudanças políticas em 1974-1975 também tiveram influências nos costumes!]

Nuno Mesquita parte do princípio que, se a transição democrática potuguesa já foi muito estudada, falta investigação sobre o papel dos media nacionais. A questão inicial é: em que medida os media se relacionam com o processo de democratização em Portugal, do marcelismo à consolidação democrática? O autor compara o percurso em direcção à democracia em Portugal com outros países, nomeadamente a Hungria (mas também o Chile e a Espanha) - seguindo esses paralelismos ao longo de toda a tese.

O trabalho empírico incide sobre dois jornais de referência portugueses (Expresso e Diário de Notícias, entre 1989 e 1992) e estuda as campanhas eleitorais legislativas de 1987, 1991, 1995 e 1999 e a sua cobertura mediática.

Dos governos autoritários versus totalitários à democracia

O agora mestre pela Universidade Católica Portuguesa partiu da distinção entre governos autoritários (que procuram desmobilizar e reprimir a população) e totalitários (com objectivos social-revolucionários) - embora empregando as mesmas estratégias: censura, repressão da liberdade de imprensa - para chegar à liberalização (ou tentativa, no caso de Marcelo Caetano) e à transição democrática, antes da consolidação do regime democrático.

Se, para Salazar, a imprensa não tinha um lugar de destaque, Caetano investiu mais nos media, com preferência para a televisão (onde passou as suas conversas em família). Claro que - ao contrário do que a tese deixa transparecer - a imprensa era um objecto considerado importante para Salazar (como o comprova a tese de doutoramento de José Rebelo, em que o ditador se servia de entrevistas a jornalistas estrangeiros para depois incitar a publicação de excertos em jornais nacionais). Mas, com Caetano, pelo menos no período inicial, em 1969, os jornais publicariam temas e textos críticos.

O texto assenta muito na factualidade dos acontecimentos ocorridos ao longo de mais de trinta anos. Para o autor, oriundo de São Paulo (Brasil), a descrição dos eventos serve para contextualizar o seu próprio conhecimento e, caso seja publicada no seu país, tem um sentido didáctico. António Costa Pinto, do ISCTE, no papel de arguente, destacou a boa utilização da literatura relevante e o trabalhar dos conceitos de liberalização, transição e consolidação do regime democrático. A tese foi orientada por Pedro Magalhães, do Instituto de Ciências Sociais.

A tese agora defendida constata a ideia seguinte: há falta de estudos sistemáticos na área. Isto é: precisamos de trabalhar muito.

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