INDÚSTRIAS CRIATIVAS (I)
As indústrias criativas descrevem a convergência conceptual e prática das artes criativas (talento individual) com as indústrias culturais (escala de massa), no contexto das novas tecnologias dos media (TIC), dentro de uma nova economia do conhecimento, para uso dos cidadãos-consumidores interactivos, escreve Hartley (2005: 5).
O mesmo autor considera que as indústrias criativas não são um produto da indústria mas da história, quer no curto quer no longo prazo.
A longo prazo, o conceito evoluiu do modo como se definiam as artes criativas e indústrias culturais desde há quase dois séculos até à ideia moderna de consumidor e cidadão, também assente nas mudanças recentes da tecnologia e da economia mundial, em especial nos anos 1990. Fazem parte das políticas nacionais e regionais ou urbanas, com políticos e decisores a promoverem "empregos e PIB". Ao mesmo tempo, as indústrias criativas surgem nos níveis educativos mais elevados, com as universidades a manifestarem preocupações na formação de pessoal criativo da nova geração.
As indústrias criativas combinam, embora transformem radicalmente, dois termos mais antigos: 1) artes criativas, 2) indústrias culturais. Esta mudança é radical porque conduz as artes (isto é, a cultura) ao contacto directo das indústrias de grande escala tais como o entretenimento nos media (isto é, o mercado). Hartley sugere a possibilidade de se ir além das distinções elite/massa, arte/entretenimento, patrocinado/comercial, nível elevado/trivial. Propõe a ligação a outros termos: cidadão e consumidor, liberdade e conforto, público e privado.
No seu todo, o sector das indústrias criativas pode ser polémico. Por um lado, devido às suas actividades orientadas para o mercado: os principais actores - televisão e imprensa diária - procuram minimizar a sua exposição face ao governo e à educação (Hartley, 2005: 19). Por outro lado, as indústrias criativas envolvem entidades de escala muito diferentes: das gigantescas multinacionais a micro-empresas, com diferentes níveis de gestão, tecnologias, quotas de mercado, economias de escala e capacidades em recursos humanos e financeiros.
A discussão no Reino Unido, onde o tema indústrias criativas se tem desenvolvido, aponta para a revitalização de cidades e regiões, umas porque sairam da indústria pesada e outras porque nunca desenvolveram uma base fabril forte (ver o Creative Industries Mapping Document 2001, no sítio Department of Culture, Media and Sport). Assim, elas podem constituir novos tipos de empresas culturais e económicas. Hartley define-as a partir de alguns tipos: indústria, organização, associação, estatísticas, pessoas, trabalhador e utilizador. O tema merece também ser discutido no nosso país: estou a pensar nas grandes cidades como Lisboa e Porto mas também em cidades médias (caso de Braga, devido ao desinvestimento no têxtil por causa da concorrência dos mercados chinês e indiano).
Leitura: John Hartley (ed.) (2005). Creative industries. Malden, MA, Oxford e Victoria: Blackwell
[continua]
1 comentário:
Pode uma indústria ser criativa ?
A criatividade é individual, fazer passar essa criatividade à fase de produção em massa é um pouco descaracterizá-la.
As criações mais singulares não vêm de organizações, vêm de individuos.
Ou então sou eu que não me liberto da aura do artista do séc XIX.
Mário
retorta@retorta.net
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