Há quem divida em pessoas em dois grupos, os tecnófilos e os tecnófobos, escreve Nelson Ascher (Folha de S. Paulo, 19 de Abril de 2004). Ora, quais as diferenças entre uns e outros?
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Se aderiu entusiasticamente ao computador e logo se ligou à internet – continua a escrever Ascher –, usando o Google diariamente, e recorre ao IMDb (Internet Movie Database) para tirar dúvidas cinematográficas, identifica-se mais com a cultura de massa. Ao invés, se se agarra às tecnologias mais antigas, em sua volta vê apenas decadência manipulada pelas indústrias culturais. Ascher desanca nos tecnófobos, que se insurgem contra a rede McDonald’s e rejeitam os alimentos geneticamente modificados, chamando-os de Frankenfood (de Frankenstein, livro escrito por Mary Shelley, que apoiou os ludditas originais).
Porém, o mundo real, reconhece o mesmo Nelson Ascher, não é assim tão a preto e branco, pois tem muitos cambiantes. Embora fosse mais fácil catalogar as pessoas num ou noutro grupo.
Star Trek
Os alunos Carlos Maia, Joana Mil-Homens e João Lameira escreveram um texto a que designaram por Star Trek e os seus fãs. Trata-se de uma análise ao comportamento dos trekkies, os fãs de uma série que acabou recentemente, nos Estados Unidos, ao fim de 18 anos de emissões - e que eu coloco entre os tecnófilos.
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Como decorreu o trabalho empírico dos alunos? Eles contactaram o
Clube Star Trek Portugal e enviaram 20 inquéritos, com uma maioria masculina (75%) de população respondente e entre os 26 e 30 anos (80%). Por a maioria dos personagens da série ser masculina, supõe-se que o número de fãs mais elevado nesse género seja a razão.
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Das respostas, os alunos concluiram haver um número elevado de iniciados no clube (45% são fãs da série há menos de quatro anos), explicado pelo facto da SIC Radical estar a repor a série desde pouco tempo atrás. A quase totalidade (19 em 20) tem material relacionado com a série (DVDs, bonecos), embora o questionário não tivesse sido desenhado para se obter quantificações de aquisição desse material. A aquisição do material fora feita na internet (57,9%), o que confirma o uso dos novos media por parte dos trekkies.
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Dois dos inquiridos responderam ter adquirido o material da série fora do país, o que levou os alunos a trabalharem duas hipóteses: 1) os fãs deslocam-se ao estrangeiro com o propósito de comprar, 2) os fãs não se desligam da série mesmo quando em trabalho ou gozo de férias [na imagem, notícia publicada no jornal Expresso, de 17 de Novembro de 2001).
Duas a cinco horas diárias é quanto os trekkies dedicam ao seu objecto de culto, nomeadamente fóruns, encontros e jogos online. 85% dos inquiridos responderam que já participaram em encontros internacionais de fãs da série e muitos consideram que esta influenciou muito a sua vida. Ou seja, as aventuras da nave espacial Entreprise encontram-se num patamar afectivo muito elevado para estes jovens, visível nas galerias de fotografias (ver imagens no sítio do Clube Star Trek Portugal, aquando da sua oficialização, em Carcavelos, a 31 de Janeiro de 2004). E entre eles encontram-se fãs excêntricos.
Observação: devo a D. Bertocchi, do blogue Intermezzo, o recorte da Folha de S. Paulo, de 19 de Abril do ano passado, que agora recuperei.
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