AINDA O LIVRO DE FELICIANO DUARTE BARREIRAS
Durante os meses de Fevereiro e Março de 2003, o então secretário de Estado teve reuniões com responsáveis dos media regionais (jornais e rádios). Agora, ele dá conta dos resultados decorrentes dessas reuniões que agregaram 622 pessoas, e de um inquérito por elas preenchido (respostas: 99%), o qual me parece importante destacar, pois traça uma radiografia do sector (ler a partir da página 70 do livro).
Assim, ele convidou os 900 jornais regionais (do conjunto de 4291 títulos registados no ICS) e 354 rádios locais (334 generalistas e 20 temáticas). Participaram nas reuniões 450 jornais (53% do total) e 209 rádios (59%).
Análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças)
Da análise incluida no livro, destaco os seguintes pontos. Primeiro, os níveis etários dos consumidores de media locais: enquanto os leitores de jornais são mais velhos, o segmento etário que mais ouve rádio situa-se entre os 25 e 34 anos. Isto pode significar que o "modelo de incentivo à leitura traduzido no apoio ao porte pago falhou" (p. 73). Segundo, os principais problemas colocados aos media de proximidade: pulverização de títulos de imprensa regional e de rádios locais, o que se traduz em "grande fragilidade económica, o que não favorece a independência editorial". Para combater isso, o autor preconiza o estabelecimento de parcerias estratégicas, com redução de custos fixos e melhoria de qualidade dos produtos finais (p. 72).
Os desafios que se colocam são: maior qualidade de gestão, necessidade de "um marketing mais agressivo, novas ideias para angariação de publicidade, grafismos mais interessantes, programas de rádio mais apelativos" (p. 75). Há aqui algumas ideias a desenvolver mas outras carecem de uma adaptação à realidade, como definir o que é um programa mais apelativo na rádio. No campo estrito da imprensa regional, a leitura do livro de Feliciano Barreiras Duarte precisa de ser comparada com a de Paulo Faustino, A imprensa em Portugal. Transformações e tendências (2004), dado o fôlego desta última obra.
Apesar dos gráficos inseridos não terem resultados absolutos e, por isso, não permitirem uma leitura precisa, os respondentes consideraram que se ouve bastante rádio nos distritos de Aveiro, Leiria e Santarém. Quanto aos jornais, os distritos de Aveiro e Viana do Castelo são os de maior leitura [observação: o quadro é de percepção quase impossível]. No capítulo da rádio, os inquiridos - eles próprios responsáveis das emissoras - acham que o Estado deve apoiar fundamentalmente a modernização das rádios, a produção de conteúdos e a formação profissional (p. 81). Já quanto à imprensa, as respostas vão no sentido de apoio na distribuição e na produção dos jornais (p. 85).
Embora dito acima, os mesmos respondentes consideram como maiores dificuldades no território da rádio: angariação de publicidade, falta de recursos humanos, excesso de concorrência e más condições técnicas (p. 82). No campo dos jornais regionais, as maiores dificuldades encontram-se na angariação de publicidade, na distribuição, na falta de recursos humanos e na captação de novos assinantes (p. 87). Dos principais problemas encontrados na imprensa (p. 88), o que surge à cabeça é o excesso de títulos, a gestão amadora e a falta de apoios do Estado (esta é um tema recorrente em todas as respostas).
Como pontos de oportunidade e desenvolvimento, Feliciano Duarte Barreiras assinala a informação de proximidade como um dos "principais mediadores pelos fluxos de comunicação entre a sociedade civil e a administração pública" (p. 110), para além dos contributos para promover as regiões e aumentar a credibilidade e proximidade da leitura (pp. 140-141). O livro tem ainda uma componente comparativa internacional (Suécia, Noruega, Áustria, França, Holanda e Finlândia) (pp. 118-131).
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