Foi em meados dos anos 1940 que Adorno e Horkheimer, então a viver nos Estados Unidos, como exilados, criaram o conceito de indústria cultural. Os bens culturais inseriam-se numa lógica de produção industrial, logo como uma mercadoria igual a outras – seriação, padronização, divisão de trabalho. O padrão da criação artística é semelhante ao padrão de produção de um qualquer bem industrial.
A escola de Frankfurt, a que Adorno e Horkheimer estavam vinculados, partiu da concepção de formas e funções superiores de cultura, inerentes ao ritual e ao sagrado. No centro desta concepção encontra-se o conceito de obra de arte não reprodutível, possuidora de aura, valor cultural e autenticidade, o aqui e agora da obra de arte (Benjamin), peça única e de acesso difícil. Ora, com os seus objectivos de análise, a escola de Frankfurt ignorou a originalidade das culturas populares e a potencial identidade das culturas de massa [que autores da América latina redescobriram, como Néstor García Canclini (1980), Jesús Martín-Barbero (1997) e Hamilton Faria (2003)].
A concepção de Adorno e Horkheimer ignorou também o que reside atrás do princípio da reprodução, como Benjamin escreveu em A obra de arte na era da sua reprodução técnica (1985). Aqui, Benjamin mostra que a arte do cinema só se concebe no estádio da reprodução, da multiplicidade de cópias, tornando caduca a ideia de arte como peça única.
Nota acrescentada em 30 de Maio: sobre Theodor Adorno e indústria cultural (no singular) ver outros meus posts: 1) 27.2.2004 - a cultura da indústria; 2) 3.4.2004 - cultura e mercadoria; 3) 9.7.2004 - pensamento de Adorno; 4) 18.7.2004 - pensamento de Adorno (continuação).
6 comentários:
Parece-me que tem o calendário avançado. Terá? Ou sou eu que estou atrasado?
Obrigado. Já corrigi.
Até que enfim encontro um blog realmente interessante. O tema que eu estudo tem precisamente a ver com as indústrias culturais analisadas pela Escola de Frankfurt! Isabel
http://cinekultura.blogspot.com/
Se não estou enganado, Adorno apenas escreveu com Horkheimer um livro - a «Dialéctica do Iluminismo» - publicado em 1944. A indicação de uma edição em Português é equívoca pois em 1978 Adorno já tinha morrido e Horkheimer também. A noção de indústria cultural é objecto de um capítulo do livro de '44 e não creio que a «mercantilização da cultura» possa ser considerada recente. A arte e a literatura foram desde sempre pagas por instituições como as igrejas, por mecenas e a partir de certa altura difícil de determinar por coleccionadores, apreciadores e clientes como aqueles que compraram a primeira edição dos «Lusíadas? em 1570 mas a tipografia já existia desde meados do século XV e as artes desde, não direi sempre, mas quase embora fossem provavelmente «consumidas» colectivamente como o teatro grego, etc., etc. Na verdade a «indústria cultural» foi crescendo paulatinamente com o aumento dos mercados das produções artísticas, literárias, etc.
A referência a 1978 é a da edição traduzida.
A referência a 1978 é a da edição traduzida.
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