domingo, 1 de maio de 2005

RÁDIOS LOCAIS

Decorreu ontem e hoje o congresso da APR (Associação Portuguesa de Rádio). Não pude estar presente.

Contudo, ontem, o Jornal de Notícias publicou uma curta entrevista que me fez, a propósito do tema rádios locais. Sobre o momento das emissoras no presente momento, disse: "Existem 352 rádios locais no país, o que me parece um exagero, porque é quase uma por concelho e alguns concelhos não têm capacidade económica para alimentar uma emissora. Tem existido uma articulação entre várias estações, nomeadamente no interior, na Beira Alta e em Trás-os-Montes, no sentido de se conseguir alguma capacidade económica e de estrutura. O que tem acontecido é que as redacções podem ser comuns e podem emitir as mesmas notícias. Do ponto de vista da publicidade obtêm algum ganho".

Sobre o desenvolvimento regional que as rádios locais podem prestar, respondi: "A legislação que tem a ver com o fim das rádios piratas é de 1989. Na fase final do governo socialista, em 2001, já se falava em alguma alteração na legislação da rádio. Nos governos de coligação PSD/CDS procurou-se alterar essa lei, mas acabou por não ir avante. Era uma legislação mais liberal, isto é, as rádios locais deviam contribuir para o desenvolvimento regional, deviam falar das regiões, das cidades. Ora o que acontece é que não têm feito esse papel porque muitas delas são gira-discos e em termos de notícias transmitem o que lhes chega da Agência Lusa ou dos jornais. Isto é, nos últimos anos não tem havido nada de bom nas rádios locais".

A outra pergunta, sobre o futuro da rádio e o que se esperava do congresso da rádio organizado pela APR, a minha resposta foi a seguinte: "Neste momento não [prevejo um futuro risonho]. Não sei o que vai ser discutido no congresso, mas julgo que irão pedir uma nova legislação, no sentido daquilo que tinha sido pensado no governo anterior, ou seja, uma liberalização. Haveria assim a possibilidade de mais rádios poderem ser compradas por um só proprietário, isto é, a lei da concentração não se ficar só pelas cinco frequências; o direito de as rádios não terem de emitir durante 24 horas, mas um mínimo [a resposta deveria ser: um máximo] de 18, o que permite que não haja emissão durante a madrugada. E permitir que os alvarás de transferência de propriedade sejam mais rápidos na sua solução".

Finalmente, quando o jornalista quis saber porque é que não há reportagens mas apenas música, disse: "É evidente que é muito mais fácil fazer playlists do que elaborar reportagens, no fundo tomar a rádio como ela era. Há um jornalista da TSF do Porto, João Paulo Meneses, que tem um blogue onde faz referências habituais exactamente a esse estado actual da rádio. Ela deixou de ser de proximidade, deixou de ter uma relação com o público e tornou-se apenas uma mera divulgadora de discos de playlist. É completamente impessoal. Aliás, há muitas rádios que, durante a noite, nem sequer têm animadores: ligam o computador, que faz a selecção aleatória das músicas".

Valerá a pena comparar este texto com a comunicação de Francisco Rui Cádima ao congresso, conforme se pode ler no seu blogue irreal tv.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quanto a rádios locais, o processo tem sido o de uma política consumada, ou seja, primeiro deixa-se fazer e só depois se legisla em conformidade, muitas vezes dando luz verde aos atropelos praticados. Do meu ponto de vista, ainda hoje se está a pagar a factura da "febre" inicial do fenómeno em Portugal, quando todos tinham que ter uma rádio. Nessa lógica, foram atribuídos alvarás em concelhos que nem para uma rádio tinham capacidade, em termos de mercado publicitário, quanto mais para duas emissoras. O resultado está à vista: as redacções têm um ou dois jornalistas (como se pode fazer reportagens assim ?!!!) que fazem tudo o que há para fazer. A opção é "normal" que recaia nessa salvação da Pátria que é o serviço da Lusa para as rádios. Ganha-se em mimetismo, perde-se na diversidade do discurso.