quarta-feira, 1 de junho de 2005

INDÚSTRIAS CULTURAIS – IV

[continuação do tema trabalhado nos últimos dias]

[O texto seguinte segue de muito perto a obra coordenada por Enrique Bustamante (2002, pp. 37-270). O livro preenche três importantes campos: agentes da estrutura, cadeia de valor, digitalização e rede]

Livros

A indústria editorial baseia-se na exploração comercial de um produto cultural original, intelectual e criativo. Nesta actividade, há agentes distintos: selecção da obra, reprodução material, distribuição e transporte físico dos exemplares do centro de produção para os lugares de venda, e venda propriamente dita.

Nos anos 50, passou-se da fase artesanal para a de indústria cultural. Agora, o sector caracteriza-se por uma crescente concentração, resultando os grupos de fusões, absorções ou integrações entre editoras médias e pequenas (concentração horizontal) e ligação a outros sectores culturais (concentração vertical e multimedia). A venda de livros sempre teve um canal preferido, a livraria, em que o livreiro conhecia os clientes e a produção editorial. Hoje, há cadeias de livrarias (Bertrand), livrarias em centros comerciais (FNAC) e venda de livros em grandes superfícies, com uma estratégia concertada: exposição e venda de títulos de grande procura, edição para a educação e literatura, jogando com o preço e os descontos e acabando com o preço fixo das livrarias tradicionais.

Em termos de cadeia de valor: o custo material do livro (papel, impressão) representa 20% do preço final. As editoras estipulam 10% de gastos gerais de administração e gestão, 10% para a promoção e publicidade, e (46) 10% para tarefas de selecção e assessoria editorial. Na parte restante, os distribuidores beneficiam de 10% e as livrarias levam 30% do preço do livro. Os restantes 10% são para descontos (que atingem 25% nas grandes superfícies) e para o armazenamento. A incidência da tecnologia digital na indústria editorial passa pelo suporte de livros com novos produtos multimedia e pela utilização da rede como montra da produção editorial convencional, ao utilizar a mesma rede para vender os livros de papel e a produção digital comercializada – os e-books. Ao falar de produção on-line fala-se de livros que se editam na rede.

Indústria discográfica

Os elementos centrais da estrutura industrial da música (popular) incluem o mercado de venda de discos, a indústria de gravações, as empresas editoriais, os concertos, as agências de concertos, os representantes, os locais de ensaio, as vendas de partituras e de instrumentos, as sociedades encarregadas da gestão da propriedade intelectual, os meios de difusão de massa, a educação musical e as políticas respeitantes à música.

O boom consumista processou-se após a II Guerra Mundial (1939-1945). Então, inventaram-se os discos de vinil de 33 rpm e de 45 rpm, num mercado massivo. Em 1982, o mercado americano lançou um novo suporte, o disco compacto (CD), com um aumento espectacular de vendas. O pico deu-se no ano de 1995, com o domínio do mercado por cinco grandes multinacionais ou majors: BMG, EMI, Sony, Universal, Warner, que produzem e distribuem mais de 80% das vendas. O mercado americano é o de maior venda.

Os conteúdos musicais produzidos pelas casas discográficas podem classificar-se em três grandes repertórios: clássico (5,5%), nacional (30 a 70%) e internacional (30 a 60%). Os artistas e discos produzidos nos Estados Unidos formam a maior percentagem do repertório internacional. Durante os anos 1980, as grandes discográficas começaram a interessar-se pelo repertório local como forma de acrescentar lucros económicos. Cadeia de valor: o preço médio de venda do CD na União Europeia situa-se à volta dos €20, enquanto nos Estados Unidos se cifra nos €17 (nos anos mais recentes, a Universal fez baixar os preços na venda, o que provocou um movimento quase geral).

Por regra, os preços dos discos compactos gravados pelas companhias multinacionais são mais elevados que os preços dos discos produzidos pelos selos discográficos independentes. Do custo de cada disco, 9,3% representa os custos directos de produção, que incluem o estúdio de gravação, a remuneração do produtor e o fabrico; 8,1% destina-se a promoção e marketing; 11,3% é a margem operativa que fica na empresa discográfica. Cada artista arrecada 9,4% do preço de vendas, e mais 4% dos direitos de autor. A distribuidora fica com 4% para cobrir os custos, e a loja com 40,1% como margem bruta. O IVA representa uma parcela substancial no preço final do disco.

Há um processo crescente e total da digitalização: o MPEG-I layer 3, mais conhecido por MP3, é um sistema de compressão de áudio digital, que permite reduzir o espaço ocupado por um arquivo digital até 10 vezes o seu tamanho original, e com uma qualidade semelhante à de um CD. Esta tecnologia permite armazenar e trocar arquivos, na Internet, através de sistemas de telefonia móvel ou qualquer outro sistema de transmissão digital de som. Devido à eficiência da compressão e à excelente qualidade de som, converteu-se rapidamente em standard recomendado por todos os organismos internacionais competentes.

Durante os primeiros anos da década de 1990, o MP3 teve várias aplicações no âmbito profissional, caso da codificação de áudio para a transmissão de sinais via satélite. Tornou-se verdadeiramente popular quando em 1997 um grupo de hackers (piratas informáticos) reescreveram o interface de utilizador de uma aplicação comercial MP3 do Windows, deixando-o à disposição dos internautas que o quisessem usar. Em pouco mais de um mês, o sistema passou do âmbito profissional para o do consumo massivo e, em 1999, converteu-se no conceito mais utilizado em todos os motores da Internet. Por outro lado, o streaming de áudio ou fluxo contínuo de som é uma tecnologia que permite emitir arquivos de som através da Internet, com a particularidade de que não podem ser guardados no disco duro do utilizador, mas apenas ouvidos no momento da ligação com a página da web de que faz a descarga. A combinação da tecnologia MP3 com o streaming e as potencialidades da rede revolucionaram o processo de difusão da rede.

[continua]

Sem comentários: