ARRASTINHO *
O título do tema do provedor do leitor do Jornal de Notícias de hoje é: "Era uma vez um arrastão". Manuel Pinto retoma no jornal um assunto que já debatera no blogue Jornalismo e Comunicação e que foi o grande assunto do dia faz precisamente agora um mês. Recorda o professor universitário: "Políticos e autarcas apareceram de imediato com ar de catástrofe, chamando a atenção para o facto da criminalidade ter, com este caso, e por assim dizer, ascendido à primeira divisão". Com os dias, continua a ler-se no jornal de hoje, o balanço feito apontava para praticamente não haver vítimas do arrastão. Manuel Pinto critica, perante as dúvidas, os media de não terem batido "porta a porta, a interrogar fontes diversas, a recolher depoimentos, a reconstituir os factos".
Em texto à parte, Manuel Pinto chama a atenção para a actuação de Vozes que não se ouvem nem lêem nos media. Escreve: "Na Internet, além do acesso a este vídeo (eraumavezumarrastao.net), é possível encontrar, nomeadamente nos weblogues, uma diversidade de contributos para a reflexão deste caso, que não foi possível encontrar nos grandes media. Quem visitar sítios como O céu sobre Lisboa, Blougouve-se, Indústrias Culturais ou Da Literatura, entre outros, não encontrará certamente factos novos, até porque a esmagadora maioria destes espaços de expressão dos cidadãos não são de profissionais e os seus autores não dispõem do tempo (e, em muitos casos, da competência) para procurar e investigar. Mas confronta-se com interrogações, relacionamento de factos, análises e sugestões que os jornalistas profissionais não perdiam nada em considerar mais".
O que escreveram os outros jornais
O Expresso de ontem deu título na primeira página à revisão da perspectiva do incidente de 10 de Junho. O Público de hoje dá-lhe um destaque em página interior (p. 29). Se é certo que foi o texto de Adelino Gomes, do mesmo jornal, a dar conta do vídeo de Diana Andringa - e que levou Manuel Pinto a interrogar-se no seu blogue e a servir de núcleo para a discussão que agora se repercute nos jornais - o Público segue a ideia do Expresso de ontem. O título do diário de hoje é Comandante da PSP diz que não houve arrastão. O mesmo responsável policial admite ter sido pressionado pelos media e considera a designação arrastão, usada no comunicado da polícia, como infeliz.
Importa aqui ver o nível da importância das notícias segundo a página em que elas se inserem. Claro que uma notícia na primeira página chama mais a atenção, destina-se a vender. Quando um acontecimento deixa a primeira página e passa para uma página interior isso quer dizer que perdeu o impacto. Mas, certamente neste caso, a notícia de hoje merecia igual destaque que o dado no dia 11 de Junho. Constituiriam tipo de prova e contra-prova. O texto de hoje, ainda por cima "esmagado" por publicidade de duas universidades, não tem o impacto dado pelo Expresso de ontem ou pelas notícias que sairam na altura do ocorrido.
Considero aqui uma outra coisa: se há circularidade da informação e das perspectivas entre os media - a notícia de ontem do Expresso marcou a de hoje do Público -, essa ideia de circularidade (e de influência ou reflexão) marca também o trabalho dos blogues (como Manuel Pinto deixa implícito no seu trabalho).
* arrastinho foi a designação original de Manuel Pinto dada à ocorrência, no seu blogue Jornalismo e Comunicação.
[texto concluído às 19:19]
2 comentários:
Essa circularidade dos blogs existe, mas nem sempre. Em relação a este caso concreto e ao meu blog, não houve.
Em relação ao comentário do provedor do JN, penso que neste caso, muito mais que reflexão, houve um "juntar de peças". Tanto o meu blog como outros divulgaram informação que já era pública mas que, como tinha sido publicada nos jornais de forma dispersa, não permitia uma leitura de conjunto. E também me parece que o não fazer isso é um dos pecados dos media, nomeadamente da chamada imprensa de referência -- as notícias vão surgindo de forma dispersa, cada vez acrescentando mais informação, mas ela perde-se por falta de contextualização. É triste verificar que o teor da notícia que fez manchete no Expresso não acrescenta nada ao que já tinha saído em artigos dispersos no Público -- e além disso peca por falta de rigor, ao dizer que a entrevista ao comandante da PSP está num site do BE, e ao atribuir-lhe afirmações que ele de facto não fez.
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