sábado, 9 de julho de 2005

DOS GRANDES ARMAZÉNS AO CONSUMO DE EROTISMO

No Diário de Notícias de 8 de Julho vinha a notícia do leilão dos antigos armazéns Lanalgo, mas que ficou sem comprador. Um dos antigos símbolos do comércio da baixa pombalina lisboeta não teve nenhum licitador a dar €2,5 milhões pelo edifício de oito andares e 2200 metros quadrados, atendendo ao seu estado e à existência de inquilinos (dois). De entre os credores, contam-se 109 trabalhadores afectados pela falência da Lanalgo há cinco anos atrás(€1,75 milhões). Para breve, haverá novo leilão. Hipóteses de reconversão: um hotel, uma escola profissional, uma universidade e uma residência para estudantes [dados que extraí da peça assinada por Diana Mendes].

Mas também se falou da possibilidade de o imóvel ser adequado a um museu do Sexo ou a uma extensão do Salão Erótico, cuja recente primeira edição decorreu na FIL (2 e 3 de Julho) e foi comentada nos media. O Expresso, na edição do passado sábado, dedicou a capa do suplemento "Actual" à pornografia e oito páginas ao cinema pornográfico, obviamente um dos espaços dessa edição que decorreu na FIL (e que teve organizadores de Barcelona, segundo ouvi na rádio).

O erotismo como género em várias indústrias culturais

O post não tem pretensões de índole moral. Mas também não defende que o consumo da pornografia é um forte sinal da decadência da fruição artística do capitalismo, como Adorno escreveu (a partir da leitura de texto de João Teixeira Lopes, 2004, "Experiência estética e formação de públicos", no livro coordenado por Rui Telmo Gomes, Os públicos da cultura, p. 49).

A minha pretensão é reflectir sobre a economia dos negócios em torno dessa nebulosa que começa no erotismo e acaba na pornografia. No referido jornal Expresso, um dos articulistas fala em 20 mil filmes X por ano, em que a principal divulgação se faz através da televisão por cabo (codificados, ou meio codificados, como um canal na oferta actual da TV Cabo) e venda de cassetes vídeo, enquanto noutro artigo se refere o sucesso do género, Garganta Funda, que custou 24 mil dólares e terá rendido de 100 a 600 milhões de dólares (consoante a fonte). Um filme pornográfico português (Fim-de-semana lusitano) terá vendido 20 mil cópias no circuito vídeo. Outro texto lembra que Nagisa Oshima, conceituado cineasta japonês, filmou O império dos sentidos, contratando uma actriz de filmes pornográficos para fazer o principal papel feminino.

lemonde.jpgBasta olhar um escaparate de quiosque de jornais e revistas numa estação de caminhos de ferro ou entrar numa loja de venda e aluguer de DVD, para não referir uma sex-shop, e ver a proliferação do género no cinema e na literatura (imagens seguintes: cartaz do Salão Erótico; capa do primeiro de dois volumes da Taschen sobre revistas para homens, inglesas, francesas e outras nacionalidades, saído em 2004). Ou ler os destaques a exposições de pintura de erotismo e pornografia como fez o Le Monde de 7 de Julho na página de "Cultura".

salaoerotico.JPGmensmagazines.jpg


O texto de Sónia Morais Santos

Voltando ao começo da mensagem e ao Diário de Notícias de 8 de Julho. No caderno "DNA", numa rubrica bem intitulada - "Vê se te avias" -, Sónia Morais Santos escreve sobre o Salão Erótico (confesso, uma vez mais, que não gostava de a ouvir na Antena 1 meses atrás, de manhã cedo; as suas crónicas no "DNA" são do melhor que se pode ler).

Retiro só uma fatia da sua prosa tão cheia de graça (acompanhada por três fotografias de Nuno Fox): "O I Salão Internacional de Lisboa foi uma lufada de ar fresco (e porco, acrescentaria a dona M) num país que tem ainda muitos pruridos em relação à sexualidade. Mas, apesar da mulher rígida que ainda impera, várias senhoras arriscaram deslocar-se ao recinto e acabaram por confessar que gostaram de lá ir. Judite, de 57 anos, piscou o olho com ar maroto: «Não deixava o meu homem aqui sozinho... Elas são muito sabidas"». Tratava-se, no fundo, de conhecer o actual estado da arte, como acabou por concluir a referida visitante: "Há aqui umas coisas engraçadas. Não sei se compramos alguma coisa mas pelo menos sempre nos actualizamos. E agora vamos ali ver o espectáculo de striptease". Espectáculo, o strip-tease!

1 comentário:

Anónimo disse...

Só para agradecer...