quinta-feira, 7 de julho de 2005

OS CHINELOS COR-DE-ROSA - AINDA O BLOGUE DO MANUEL PINTO

A análise de ontem de Manuel Pinto, do blogue Jornalismo e Comunicação, comentado no post anterior, incidiu, entre outros assuntos, no texto de Joaquim Fidalgo (Público) [não ponho link pois não sei quantos dias fica a notícia disponível gratuitamente]. Fidalgo só merece elogios ao seu trabalho, pois é um trabalho notável. Sem criticar as organizações jornalísticas, que fazem do marketing um elemento essencial na venda de exemplares, o colunista fala de faqueiros, serviços de café, facas de cortar queijo ou uma tábua para pôr o mesmo a ser cortado. A ironia vai ao ponto de comentar, "incitando" à coordenação entre revistas e jornais: "eu já tenho um faqueiro completo que fiz com um jornal, um serviço de jantar que fiz com outro (por acaso até podiam condizer melhor, mas enfim...) e um serviço de copos jeitosinho que me trouxe uma revista. Claro que agora também me apetece ter os copos desenhados por Fátima Lopes", etc., etc.

O que Manuel Pinto não nos dá é a contextualização da página. O editor que fechou a página deve ter ido para casa cheio de felicidade por ter trabalhado uma página assim (para memória futura: p. 10, secção "Espaço Público"). A coluna ao lado da de Fidalgo chama-se Nem tanto ao mar nem tanto à terra, assinada por Luís Fernandes. Este parece apostado a dizer ao colega de página [o que se segue é efabulação minha, embora fale do Algarve e da praia]: tens alguma razão, mas entre o faqueiro e as notícias das férias escaldantes do João Pinto (leia-se: jogador de futebol semanas atrás no Algarve) ou das férias igualmente escaldantes de Cristiano Ronaldo (leia-se: jogador de futebol semanas atrás no Algarve), a cultura material aumentou. Finalmente, a coluna mais à esquerda [a das citações de outros media] vem deitar água na fervura da felicidade prometida pelas revistas e jornais: começa por Sérgio Figueiredo (Jornal de Negócios) ["Ouve-se, há pelo menos meia década, dizer que o modelo económico português está esgotado"], continua por Joaquim Letria (24 Horas) ["Portugal continua a ser um belo país para construir um país. Mas não por empreiteiros destes"] e quase acaba em Jacinto Lucas Pires (A Capital) ["O problema é que um país deprimido é também um país que ousa menos, produz menos e vive pior"].

Perante isto, venham daí os chinelos cor-de-rosa!

1 comentário:

Anónimo disse...

Do interessante post extraio apenas a frase inquietante de Jacinto Lucas Pires (A Capital) ["O problema é que um país deprimido é também um país que ousa menos, produz menos e vive pior"].

ou como (nem sempre se deve) recorrer ao repouso meditativo (shinay) que se desenvolve a partir do deleite, da fé e do entusiasmo e não da raiva, da ira, da irritação e da exasperação..

mas ajuda a entender esta dicotomia a delicada observação de que a ira, "como qualquer outra emoção, pode ser fragmentada em constituintes mais elementares." Como diz Paul Ekman, "a peça construtiva poderá ser uma certa característica que está frequentemente presente na ira mas que pode também estar presente em momentos isentos de ira - a persistência".

Será que falta em Portugal persistência, até na ira?