AUDIÊNCIAS
Michel Souchon (1997) escreve que a palavra audiência não tem o mesmo significado original em francês e em inglês. Ali, é o equivalente de escuta [o auditório prestar atenção]: estudar a audiência é indicar [nomear] as pessoas que escutam/dão atenção a uma emissão, a um canal, durante um período ou faixa horária. Para os ingleses, a palavra audiência quer dizer público: a pesquisa de audiência diz respeito ao conjunto de trabalhos que estudam o público, através de sondagens ou outros métodos, para contar espectadores ou ouvintes, assim como para conhecer outros aspectos do seu comportamento, modo de vida, práticas culturais. Audiência significa assim, também, um dos aspectos da pesquisa de audiência numa sociedade de televisão. E é a designação dominante hoje.
Souchon fala em vários indicadores: 1) audiência instantânea (conjunto de pessoas presentes diante da televisão ou ouvindo uma estação num momento preciso), 2) audiência acumulada de uma emissão ou fatia de horário (conjunto de pessoas que viram, pelo menos, um fragmento do período analisado), 3) audiência inteira ou completa (conjunto de pessoas que viram toda a emissão ou uma fatia horária), e 4) audiência média (número de pessoas presentes, em média durante a duração de uma emissão ou fatia horária).
Segundo os utilizadores, privilegia-se um ou outro dos indicadores. Os compradores de espaços publicitários pagam pela audiência instantânea. Os políticos preocupam-se com partes da audiência ou parte do mercado. Os produtores querem conhecer o perfil do seu público lendo os números da audiência média. O indicador mais usado nas televisões (e mais publicado nos jornais) é a audiência média. O indicador dominante substitui-se à realidade, esquecendo o seu carácter parcial. O número dos que viram um fragmento da emissão (audiência acumulada) é muito mais elevado; e que o número dos que viram a emissão no seu total é muito mais baixo. Daí a necessidade de usar outro indicador: a audiência inteira.
Souchon constata que uma estrutura de tempo de audição atravessa grandes mudanças nos diferentes grupos sócio-demográficos da população. A repartição em classes A, B, C, D e E não permite descobrir pequenos consumidores que vêem televisão em programa de informação, cultura ou conhecimento. Eu acrescento que a recepção é activa, isto é, a mensagem pode não atingir todos de igual modo.
[na segunda imagem, página do Diário de Notícias de hoje, com informações sobre os programas de televisão mais vistos. O indicador usado é a audiência média]
Leitura: Michel Souchon (1997). “L’audience de la télévision”. In Paul Bead, Patrice Flichy, Dominique Pasquier e Louis Quéré (dir.) Sociologie de la communication. Paris: CNET, pp. 909-913
Sem comentários:
Enviar um comentário