quarta-feira, 24 de agosto de 2005

OUTROS LIVROS

Por vezes, em livrarias fora de Lisboa, encontram-se livros deliciosos, publicados por editores pequenos. Numa ocasião, em que trabalhava em Aveiro, era um habitual de uma livraria num centro comercial mas que funcionava como se fosse uma loja de bairro. Lá descobri um texto de José Dias Coelho, chamado Leiria entre 1920 e 1940 - sociabilidade e vida quotidiana (1999, ed. Magno), a que já fiz aqui referência. O que eu aprendi com o livro, que nunca encontrei numa livraria aqui em Lisboa!

Há sempre uma razão para coisas que desconhecemos. No caso, a enorme produção de livros (apesar de nos considerarmos leitores baixos a nível nacional). Um distribuidor dizia-me em Dezembro passado que tinham sido publicados no final do ano cerca de 400 livros. Não existe uma qualquer livraria capaz de albergar tamanha produção numa só ocasião. Resultado: muitos dos livros são mortos à nascença.

Esta minha conversa vem a propósito de pequenas edições, claro. Ou melhor: de edições de circulação fora das principais livrarias. Caso das edições de associações. Uma das maiores alegrias da minha vida foi ter ajudado, numa altura de associações de defesa do património, a editar um livro sobre uma festa de Valongo.

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A Associação Cultural de Cascais situa-se nessa condição de editora de livros de autores menos conhecidos, talvez designados por autores populares. É um importante serviço prestado à comunidade. Trago aqui dois deles, com textos em rima.

Um deles foi escrito por Isolina Alves dos Santos, chamado Alcabideche no sabor dos versos meus (2003). Escreve a autora: "Quando a televisão chegou/Pela mão de Luís Pires/A minha casa brilhou/Com as cores do arco-iris.//Esta casa já velhinha/Sem nada para admirar/Onde eu me senti rainha/Ter alguém com quem falar".

O outro pertence a Natael Rianço, entretanto desaparecido, com o título A minha história de Portugal (2001). Retiro duas quadras de um poema sobre Rafael Bordalo Pinheiro: "[...] Lanterna Mágica também ilustrou/Fê-lo com grande ternura e carinho./E, aí, uma lendária imagem nos legou:/A figura do eterno Zé Povinho.//Durante o século XIX,/À sua arte imprimiu dinâmica./O principal caricaturista português,/Com incursões nas artes decorativas e cerâmica".

Do primeiro livro, escreve no prefácio José d'Encarnação: "à primeira vista, dos versos de Isolina Alves Santos: «coração» a rimar com «afeição»; «amor» com «dor»; «criança» - «esperança»; «mundo» - «profundo»... Fácil, não é? Formalmente, sim. Mas... e a alma"? Do segundo, e do mesmo prefaciador, lê-se a história de Portugal de Natael Rianço é "Como ele a estudou, como lha ensinaram em tempos de heróis e de santos e do Poeta que canta".

Estas e de outras publicações devem-se ao entusiasmo desse prefaciador, José d'Encarnação, professor da Universidade de Coimbra e fundador da Associação Cultural de Cascais. Um grande obrigado pelo seu esforço de divulgador e incentivador de obras que, sem estarem de acordo com o sentido estrito de indústrias culturais, como desenvolvo aqui, são-no enquanto contributo para conhecimento de outras vozes da cultura.

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