OS CONSUMOS DO CINEMA EM PORTUGAL
"Um terço dos portugueses nunca vai ao cinema" (Inês Nadais, Público, 10 de Agosto), "Um terço dos portugueses não vai ao cinema" (João Pedro Oliveira e Maria João Caetano, Diário de Notícias, 12 de Agosto). A informação provinha de estudo divulgado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) e Comissão de Classificação de Espectáculos (CCE), num trabalho feito pela Euroexpansão.
Que outros dados interessantes os jornais publicaram? Dois terços dos nacionais não compram filmes e mais de metade não os aluga. Em termos de nível etário, os jovens entre os 14 e os 17 anos são os que mais vão ao cinema: 45,6% deles garante a ida ao cinema duas vezes por mês em média. São também os jovens os clientes do mercado de aluguer de DVDs. A ida ao cinema torna-se um comportamento minoritário a partir dos 30 anos (14,1% dos inquiridos) e residual nas faixas etárias acima dos 50 anos. Para o director do ICAM, Elísio de Oliveira, as "pessoas que compram DVD são as mesmas que vão ao cinema" (jornal Público). O mercado está virado completamente para o público adolescente, como eu frisei em mensagem anterior [aliás, as imagens que ilustram os textos dos dois jornais apontam para isso: os filmes são Star Wars III, Madagáscar, Guerra dos mundos].
A perda de espectadores (e a correspondente quebra de receitas nas salas de cinema) não se justifica pelo mercado de venda e aluguer de DVD. A crise tem o contraponto no crescimento da pirataria: em destaque, lê-se no Diário de Notícias que quase dois terços da informação partilhada na internet corresponde a ficheiros de vídeo. Hoje, as redes peer-to-peer (redes de amigos) é a plataforma principal de difusão de cópias ilegais de filmes.
Há, ainda, um fenómeno contraditório: o da abertura e encerramento de salas de cinema. Segundo o Diário de Notícias, desde o começo de 2004 até Junho deste ano abriram 91 salas e fecharam 25, com um saldo positivo de mais 66 salas (num total de 998 ecrãs). Entre os novos recintos, destacam-se os Millenium no Freeport de Alcochete (21 ecrãs), pertencente a Paulo Branco, que já abrira, no ano anterior, 16 salas no Alvaláxia XXI, em Lisboa. Há rumores que a empresa está em processo de insolvência, mas o seu dono não comenta. E para o começo do próximo ano prevêm-se oito salas aqui ao lado, no Campo Pequeno.
Sentido, sentido, foi o encerrar de portas do cinema de S. Mateus (Viseu), como se lia no local Centro do Público de 10 de Agosto. A sala abrira há quase 23 anos, com Em busca da esmeralda perdida, e fecharia este mês com o filme Quem tem medo do papão? [será que os títulos têm alguma relação com a histótia do cinema?] Os espectadores, diz a peça assinada por Marisa Miranda (com fotografias de Carla Carvalho Tomás), frequentam agora os cinemas dos centros comerciais: Palácio do Gelo (três salas e abertura próxima de mais) e Fórum Viseu (que terá seis salas este ano ainda). Cada cinema que morre deixa uma época para trás - filmes, relações pessoais, circuitos de consumo e cultura. Mas a vida é assim mesmo! O contraditório acima assinalado vai pesar, com certeza, contra as salas de cinema.
Observação: pela inserção das imagens nos dois jornais, percebe-se que o Diário de Notícias tem uma leitura mais maleável e agradável que o Público. A cor e a possibilidade das imagens "morderem" o texto dá ao Diário de Notícias um ar de modernidade face a um jornal, o Público, que, novo de quinze anos, tem um layout clássico, sem permissão de grande inovação.
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