quinta-feira, 24 de novembro de 2005

FUGAS DE INFORMAÇÃO

(Contributo do autor para o Diário dos Media, grupo de discussão de estudiosos dos media, a 6 de Janeiro de 2001, aqui adaptado).

Tenho trabalhado ultimamente este tema, como parte da investigação em jornalismo. Com o presente texto, procuro adequá-lo a um hipotético dicionário de entradas. Pela fuga de informação, pretende-se desequilibrar uma relação de forças, através de informações mantidas secretas e que se tornam públicas. Ericsson et al. (1989) – que descreveram os contactos entre jornalistas e fontes como equivalente ao palco (onde se publicita, anuncia) e bastidor (onde se esconde, o secreto mas também a confidência) – consideram que o parlamento é um espaço ideal para as fugas de informação. No parlamento, há muitas organizações distintas interessadas em descobrir segredos das outras (Ericsson et al., 1989: 220). Cada organização possui especialistas em "largar" informação, com objectivos próprios: cativar os jornalistas e ter acesso aos media; espicaçar os adversários, para que estes reajam, libertando outra informação e alterando a rota das suas intenções. Além de um especialista, a fuga pode ser executada por um amador, divulgando um abuso ou um erro de gestão. O aumento das fugas de informação resulta da concorrência interna de diversos poderes em instituições em que a luta pelo poder é importante (pessoas, grupos, facções políticas, económicas, religiosas).

Na fuga de informação, a fonte esconde-se através do anonimato. Actua [ou pode actuar] por mera vingança, para "abater" uma pessoa ou entidade, para publicitar uma injustiça ou dificuldade, pelo efeito de surpresa, como balão de ensaio para medir reacções a uma proposta ou projecto a lançar. Dentro das estruturas institucionais – e o parlamento é uma delas – produzem-se muitos boatos ou rumores. Enquanto o boato ou rumor tem um carácter indefinido, com apenas alguns elementos coerentes (e que podem resultar da distorção de elementos), sem identificação de origem, a fuga de informação possui uma origem própria, mas que se esconde, temendo represálias ou actuando por vingança. O rumor é um meio importante, pois pode constituir uma campanha de insinuação para desacreditar os adversários.

A fuga de informação implica a colaboração activa de uma fonte e de um jornalista. Ambos têm interesse, embora diferenciado. Os livros de estilo dos media rejeitam a fuga de informação, exceptuando quando a informação coloca a fonte em perigo físico.

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