[Embora já tenha escrito aqui sobre o tema, produzo agora uma versão mais digerida].
A palavra fã vem do inglês americano fan, abreviatura de fanatic (fanático) e significa alguém que nutre uma admiração especial por um artista de cinema, televisão, música ou outra indústria cultural. Contudo, eu não partilho desta visão de fã, pois há comportamentos moderados relativamente ao objecto de que se é fã (fandom, em inglês), que não nos leva para a radicalidade de um obcecado.
Encontro, assim, dois tipos fundamentais de fãs: 1) passivo, e 2) activo. Ambos têm uma relação de fantasia com a vedeta que idolatram (Jensen, 2003). O fã passivo colecciona discos, concertos e entrevistas em revistas, mas não estabelece uma relação profunda com outros elementos. Já o fã activo, para além do estatuto de admirador do objecto de que é fã, articula-se com outros fãs e: 1) interpreta os textos mediáticos numa variedade de perspectivas interessantes e mesmo inesperadas, e 2) participa em actividades comunitárias (Hills, 2002: ix).
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Definir o fã [fandom] não tem sido tarefa fácil, apesar do quotidiano da palavra. Podemos colocar o fã, o "cultista" e o "entusiasta" num espectro de identidades e experiências, distinguindo-as entre si e ligando-as por uma especialização de interesses, organização social de interesses e produtividade material que faz mover do fã para o cultista e para o entusiasta. O "cultista" parece-se com o fã; o fã é caracterizado por uma falta de organização social (fala-se das crianças como fãs). Também a tentativa de separar o cultista e o entusiasta causa problemas, dado que uma distinção é se o interesse do fã é derivado dos media (=cultista) ou não (=entusiasta). Uma distinção parcial entre fã de culto e fã relaciona-se não com a intensidade, organização social ou produtividade semiótica/material no que diz respeito ao fã, mas mais com a duração, especialmente na ausência de material "novo" ou oficial no meio de origem.
Nos anos de 1950, associaram-se imagens de adolescentes com fãs do rock’n’roll (Joli Jensen, 2003). Ao ler notícias sobre música popular, tornar-se-ia vulgar surgirem imagens de violência, bebidas, droga, sexo e questões raciais. O heavy metal seria outro dos géneros de música juvenil violenta, ligando-se a cultos satânicos. Mas a violência incontrolável dos fãs também aparece no desporto, caso do hooliganismo. Caracteriza-se o fã como rápido aderente a comportamentos violentos e destrutivos.
Tenho de reconhecer, como faz Joli Jensen no seu texto, que todos nós – mesmo os mais racionais ou "cinzentos" – somos fãs de alguma coisa: 1) do futebol (e leva-se um cachecol, uma camisola, uma bandeira ou outro adereço qualquer), 2) da ciência e literatura (compramos tudo que diga respeito a um autor: os seus livros, as biografias sobre ele, as suas entrevistas, ou a sua assinatura no lançamento de um livro), 3) do coleccionismo (selos, borboletas ou outro hóbi qualquer).
Leituras: Joli Jensen (2003). "Fandom as pathology: the consequences of characterization". In Lisa A. Lewis (ed.) The adoring audience. Fan culture ans popular media. Londres e Nova Iorque: Routledge
Matt Hills (2002). Fan cultures. Londres e Nova Iorque: Routledge
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