quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

FALAR DE BLOGUES COM JOSÉ PACHECO PEREIRA

tertuliablogues.jpgDecorreu hoje, pelas 19:00, o terceiro e último colóquio sobre blogues, uma organização de José Carlos Abrantes e Livraria Almedina, nas instalações desta, ao Saldanha, em Lisboa. Recordo que as anteriores sessões ocorreram nos dias 13 de Outubro (Falar dos blogues no feminino) e 10 de Novembro (Falar de blogues: percursos e perspectivas), ambos com muito sucesso em termos de audiência.

O mesmo ambiente teve a livraria no final desta tarde. O tema era Falar de blogues com José Pacheco Pereira. Professor, historiador, político e animador do blogue Abrupto, Pacheco Pereira falou da blogosfera em geral e do seu blogue em particular.

O conferencista teve como um dos pontos de partida a definição de cultura em Eliot. Conquanto o poeta americano tornado cidadão inglês acabasse por falar em cultura como sendo um bem da sociedade em geral, um dos seus temas iniciais foi a cultura de elite. Pegando nessa ideia, Pacheco Pereira entende que os blogues são, no nosso país, um instrumento de cultura de elite, muito influentes nas elites nacionais e nos jornais. Ele repetiu esta ideia da grande influência dos blogues nos jornais e em centros de decisão, nomeadamente a nível literário, na animação cultural e na política. Considerou ainda o professor e político que os blogues não fazem ainda parte da cultura de massa, pelos conteúdos, mas já pertencem a esta cultura de massa pelo número de páginas pessoais deste tipo.

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[legenda das imagens: à esquerda, José Pacheco Pereira; à direita, José Carlos Abrantes, organizador da tertúlia. Na imagem mais abaixo, pormenor de uma das filas da assistência, com jovens da Universidade Lusófona tomando notas para um trabalho]

Ele começara por afirmar que o blogue lhe deu tudo o que os outros media não conseguiram. Mantém o programa inicial do Abrupto: grafismo simples e agenda própria (não política), rapidamente identificável pelos leitores. Além disso, o seu espaço na blogosfera não tem um discurso de intimidade ou revela estados de alma do autor, embora manifeste a todo o momento os seus gostos e preferências, quando coloca uma pintura, uma citação ou um poema em latim ou indique ainda paixões e práticas antigas como a astronomia. Diria ainda que o seu gosto pelos papéis, pelos livros, pelas capas e pela publicidade é já muito antigo, que lhe vem do tempo do liceu quando ambicionava editar uma revista de literatura. O que escreve não é para ser popular mas porque gosta de editar.

Apesar de considerar que não procura conhecer as audiências como um fim em si mesmo, acabaria por reflectir no assunto. Chega a ter 15 mil visitas por dia, em especial em momentos como a chegada da sonda Cassini-Huygens a Titã, uma lua de Saturno, em Julho do ano passado, ou situações políticas específicas (queda de governos, eleições). É muito lido em Portugal, Brasil e Estados Unidos (caso de comunidades de portugueses ali implantadas). Têm, além disso, núcleos de leitores regulares de países como a Rússia e cidades como Teerão. A estes momentos altos correspondem momentos de menor procura, caso dos fins-de-semana, feriados e meses de férias.

Não possui caixa de comentários mas recebe muitos emails diários (140 por dia em média, correspondência superior à de muitos jornais). Sensível à opinião desses leitores, publica-as no blogue quando as mensagens lhe parecem adequadas, vindas de pessoas ilustradas como professores e cientistas ou profissões comuns como polícias e enfermeiros.

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Houve ainda tempo para salientar alguns dos aspectos positivos dos blogues, um novo terreno comunicacional, como o da instituição da memória (imagens, ideias) e como elemento de correcção. Ao contrário da cultura da internet no geral, alheia à memória, à leitura e encurtando o espaço, a blogosfera traduz-se em novos tipos de interacção, é um elemento de revolução profunda e que alarga o espaço público (criação estética e relação com o mundo exterior). No tempo, o sucesso dos blogues residirá não tanto nas mensagens, mas nas imagens, expressões ou marcas, na distinção de cada blogue em si. Para Pacheco Pereira, o futuro não é apenas a tecnologia mas a literacia.

Observação 1: Pacheco Pereira vai criar um novo blogue (o seu lançamento será nos próximos dias) acerca do livro que escreveu sobre Álvaro Cunhal (o terceiro volume foi editado a semana passada). Nesse novo espaço, espécie de complemento do livro (aparentado com os CD-ROMs que acompanham algumas edições), haverá lugar para correspondência, documentos que não conseguiu colocar no livro, críticas e comentários.

Observação 2: escrevi duas outras vezes sobre intervenções de Pacheco Pereira: a 16 de Junho de 2005, em colóquio organizado pelo Diário de Notícias, e 22 de Outubro de 2005, no IV Congresso de Comunicação da SOPCOM.

3 comentários:

Anónimo disse...

a iniciativa dessas conferencias é louvável não fosse um pseudo-intelectualismo e uma triste tentativa de criar uma blogosfera de cultos e catedráticos, de eruditos que falam dos blogs olhando para o umbigo.

Falam falam mas n dizem nada...foi terrível a que eu fui...ui...se n fosse o Paulo Querido e a Joana Amaral Dias parecia uma reunião de gente incapaz de materializar ideias.

Anónimo disse...

de acordo eremita b.

os blogs não correm só pla ciência, pla competência e plo estadão.
correm também por gosto, por desporto e plo sim plo não.

amok_she disse...

Pois eu gostei muito (muito mesmo!)) de ouvir o PP dizer q o (seu) blog é o que ele quer que seja, o que ele gosta, o que ele faz, o que ele gosta de fazer...daí não fazer sentido caixa de comentários. Entendo-o, nesse contexto, entendo-o e aceito! E agora, ao fim deste tempo todo de bloguices, começo a concordar em pleno: alguns blogs vivem muito bem sem caixa de comentários: os seus autores bastam-se!

...outros não!