quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

NOVO NÚMERO DA TRAJECTOS

Saíu o número 7 da revista Trajectos, revista de comunicação, cultura e educação do ISCTE e editada pela Casa das Letras, correspondente ao Outono. Dirigida por José Rebelo, o presente número tem como temas de capa A imagem em actos e Viver (n)a cidade.

Destaco os textos de Estrela Serrano (sobre eleições presidenciais e o impacto nas notícias dos jornais), Vítor Matias Ferreira (espaço público e cultura urbana) e Frédéric Lambert (a imagem em actos, texto que dá mote à primeira parte da publicação). Mas delicio-me com as seis páginas do texto de Maria Augusta Babo, A cidade e os seus regimes de inscrição. A professora da Universidade Nova de Lisboa começa com uma referência de Victor Hugo à cidade enquanto livro de pedra. Mas o livro, segundo o autor francês, matará a cidade - a tipografia substitui a arquitectura como contadora da História. Acresce a isto, escreve Babo, o facto dos construtores das catedrais deixarem símbolos ou emblemas gravados na pedra.

O próximo autor convocado seria Benjamin mais a sua eleição das passagens em ferro em vidro na Paris oitocentista. O ferro torna-se o material das construções. Além disso, a cidade é também motivo de registos, como Uma folha do livro de registo das cidades de Paul Klee. E ainda Paul Auster, em A cidade de vidro, onde se lê a cidade de hoje através de uma "escrita deambulatória, labiríntica, em deriva" (Babo, 2005: 90). E, logo depois, permite-se-nos ler o seguinte: "A cidade é uma rede que precede o aparecimento da Internet. Rede a vários níveis: não só no reticulado das suas ruas, mas ainda na rede de transportes que se lhe sub ou sobrepõe, inscrevendo, por isso, a mobilidade como primeiro código de leitura-percurso" (p. 91).

Maria Augusta Babo ainda dedica uma parcela substancial do seu texto à análise do graffitti e da tag nas paredes das superfícies das cidades. Impenetrável selvajaria, conceito que ela vai buscar a S. Stewart, o tag, do mesmo modo que nomeia, suja, vandaliza, "porque exprime o singular no espaço mudo e anónimo do colectivo. Daí que o seu funcionamento dispense a legibilidade".

Fico com imensa curiosidade em ler o livro de Maria Augusta Babo (com José Augusto Mourão), Semiótica: genealogias e cartografias, que se anuncia para 2006, com a chancela da MinervaCoimbra.

A revista Trajectos inclui também uma secção de recensões, de que realço a realizada por Eduardo Geada acerca de dois livros de Tito Cardoso e Cunha, meu professor na Universidade Nova de Lisboa e agora a ensinar na Universidade da Beira Interior (livros Razão provisória e Argumentação e crítica).

Leitura: Trajectos, nº 7, Outono de 2005, €12, 153 páginas

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