PODERÁ UM PROGRAMA DE TELEVISÃO SER UMA PRIORIDADE NACIONAL?
A coluna de Rod Liddle, no Sunday Times, faz lembrar a de Fernando Madrinha no Expresso. É também política, e nem sempre se concorda com o que escreve, mas vale a pena ler. Hoje, para além da análise à defenestração (é o termo empregue) de Charles Kennedy, o demitido líder do partido liberal inglês, devido à sua conduta de alcoólico (ele promete, noutra parte do jornal, ganhar a batalha contra o uísque, com a ajuda da família e de vitamina C), Rod Liddle dá realce a uma pequena história, lamentável e irónica em simultâneo.
Trata-se de um programa de televisão, o Pop Idol, em que pessoas que nele entram, apesar de não terem dotes de cantar, são convidadas mas sujeitas a serem insultadas por outras pessoas que têm ou não relevo público. O formato pertence à Freemantle Media, uma empresa londrina. O sucesso chegou à Etiópia, onde até as audiências contam. O músico vedeta etíope dá pelo nome de Feleke Hailu. Porém, a versão local avançou sem serem pagos os direitos de autoria do programa, o que a Freemantle quer ver cumprido.
Ironiza Liddle: a esta estranha questão de direitos de autor sobrepõe-se outra: a da necessidade da Etiópia querer estar na linha da frente das comodidades da civilização do primeiro mundo, caso do programa de televisão, antes de se estabelecer um governo competente e democrático, o respeito pelos direitos humanos e alimentação para todos. Apesar da razão do comentador, em conjunto com alguma petulância, quero acrescentar que, nos jornais, tem crescido o rumor de uma nova guerra com os vizinhos da Eritreia. Claro que um programa televisivo de insultos afasta momentaneamente os problemas mais relevantes. A alienação daqueles momentos funciona como anestesiante.
1 comentário:
Que história! A isso se chama inversao de prioridades!
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