"MORANGOS COM AÇÚCAR" NO NOTÍCIAS MAGAZINE DE HOJE
A razão do texto prende-se com o recente casting para uma nova série dos Morangos com açúcar, a popular novela para jovens que passa há três anos na TVI. Aliás, o tema vem na capa da Notícias Magazine, que eu ampliei (texto de Ana Markl e fotografia de Adriana Freire).
Amanhã, a TVI faz anos (13 anos), com uma confortável liderança de mercado de audiências no prime-time (39% no share da semana passada, seguida pela SIC com 24,7%). E o programa Morangos com açúcar foi o sétimo mais visto da mesma semana.
Eu, confesso, não gosto da série, mas sigo com atenção o sucesso e procuro entender as razões (já aludi aqui ao programa, mais do que uma vez). E, da leitura do texto de Ana Markl, parece-me que ela também não gosta.
A primeira parte do texto é impressionista e dá para perceber o que as pessoas esperam do programa. Disse uma mãe das conversas que o filho teve com ela: "Ó mãe, se não me deixas ir estás a cortar-me as pernas para o meu futuro. Eu posso ir e ter futuro!". Outra mãe disse para o gravador da jornalista: "Houve crianças de oito anos com crises de hipotermia que tiveram de se ir embora, cheias de frio, todas roxinhas. Amanhã vou ligar para o programa do Manuel Luís Goucha e vou contar-lhe isto tudo".
O meu comentário, tipo moralista, para não ir mais longe: num país com uma situação complicada, com 500 mil desempregados, muitos deles jovens recém-licenciados mas cheios de ilusões e de vontade para fazer coisas, vale a pena ir fazer queixa num programa de televisão por algo tão insignificante? Se ao menos fosse para falar de novas actividades nas escolas ou contribuir para voluntariado, capazes de dignificar o ser humano. E não será um futuro enganador, como aquele do Mário do primeiro Big Brother, agora preso por roubos à mão armada? O futuro faz-se com trabalho e perseverança, ou com castings e reality-shows?
Na segunda parte do texto de Ana Markl, ela apoia-se num trabalho de uma psicóloga (Madalena Fontoura), para quem a série se traduz em superficialidade e lugares-comuns e reforça a banalidade e a pretensão de saber tudo. A referida intelectual precisa mesmo que o ideal seria proibir televisão às crianças e jovens, com os pais a assumirem firmeza nessa assunção. Eu não quero ser tão radical como a psicóloga e entendo que a jornalista devia ouvir uma posição diferente, no princípio do contraditório. É que se o programa tem sucesso (15% do auditório televisivo vê o programa), há razões para essa popularidade, acrescida da corrida ao casting, afinal o objecto de trabalho da jornalista.
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