O PESO DA IMAGEM
Recupero três textos editados hoje no jornal El Mundo (Espanha). O primeiro diz respeito ao desenhador dinamarquês Flemming Rose, autor dos desenhos que incendiaram o mundo muçulmano esta semana. Ele compara os islamistas aos bolcheviques, dado o seu fanatismo, dogmatismo e propensão a usar a violência contra quem não partilha a sua opinião. O segundo é um texto de Carmen Rigalt, para quem, com o filme Brokeback Mountain - que trata da paixão de dois homossexuais -, a extinção da heterossexualidade pode significar o regresso das mulheres aos territórios da marginalização.
Estes são, no preciso momento, dois temas fracturantes para a sociedade. Em Portugal e esta semana, o episódio do putativo casamento de Teresa e Lena constituiu assunto de primeiras páginas dos jornais (ou o agendamento noticioso, como bem lembrou Manuel Pinto no blogue Jornalismo e Comunicação). E as referências cautelosas de políticos e religiosos ao assunto de Maomé travestido de bombista leva-nos a olhar com precaução o assunto.
Ora, o El Mundo, para além da cruzada do seu director Pedro J. Ramirez contra o estatuto da Catalunha, sempre em editoriais extensos e virulentos, abraça novas causas. A página 2 é o exemplo - que, aliás, não vi nos jornais portugueses. Frente a frente duas perspectivas opostas: a da proibição de caricaturas de Maomé, ou Cristo, ou Buda, e a da não proibição enquanto liberdade de expressão, pilar da democracia. E o jornal está a fazer uma votação entre os que são a favor e contra a proibição, levando a avante os "não" (78%).
Ao mesmo tempo, e ainda no domínio da imagem, o terceiro texto informa o lançamento da película João Paulo II: o amigo de toda a Humanidade, a ocorrer no próximo dia 2 de Abril, coincidindo com o primeiro aniversário da morte daquele popular Papa. Trata-se, segundo diz um dos seus principais responsáveis, José Luis López-Guardia, de uma "película para toda a família e com uma piscadela especial às crianças e aos mais jovens, tão familiarizados com a linguagem dos desenhos animados". Aqui, não há disputas mas um consenso alargado, com apoio e regozijo.
Claro que me lembro ainda do impacto do filme inicial dos Lumière, mostrando a chegada de uma locomotiva a uma estação ferroviária e do medo que essa visão teve nos espectadores, que fugiram pensando ir ser atropelados pela imagem. Ou da leitura das primeiras pinturas abstractas, que mereceram o desprezo de quem a elas assistiu. A imagem tem um valor inexcedível e um grande impacto na leitura do quotidiano. Por ela, há êxtase ou perseguição, aprendizagem ou cólera colectiva. Assim, uma imagem constrói um mundo, mas também o pode destruir.
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