OS MEUS LIVROS
Da edição de Fevereiro de Os Meus Livros (director: João Morales), escolho dois temas: 1) entrevista de Rui Tavares, 2) escritores e manicómios.
De Rui Tavares fala-se, obviamente, do seu O pequeno livro do grande terramoto, dado a conhecer no momento da passagem de um aniversário do terramoto que devastou esta nossa cidade de Lisboa em 1755. Rui Tavares, com uma aventura conhecida na blogosfera e antigo professor de História da Fotografia, olha o acontecimento como "História alternativa [enquanto] maneira de apanhar o fio à meada da história real porque, como houve uma catástrofe, existe uma rotura na textura da cidade, nos arruamentos, no urbanismo, etc. Depois, essa história alternativa que surge no segundo capítulo é também uma forma de ir depositando o leitor na Lisboa anterior a 1755 porque essa história só é alternativa a partir do terramoto".
O segundo tema, mais delicado, parte da morte de António Gancho (1940-2006), a qual funciona como pretexto para se saber de como alguns escritores passaram parte da sua existência. Retiro o seguinte do texto assinado por João Morales: "Senhor de uma poesia clara, lúcida e com herança no surrealismo (ou, pelo menos, numa certa ginástica da linguagem que este movimento tão bem soube explorar) deixa-nos dois livros publicados, ambos na Assírio & Alvim: As dioptrias de Elisa (1995), uma divertida novela erótica, e O ar da manhã (1996), onde se agrupam quatro livros escritos entre 1967 e 1985. Este último deverá, brevemente, ser alvo de reedição". É de O ar da manhã que se recolhe o poema Ilustrazione:
- Faço um poema e nasce uma cidade
invento o conteúdo geográfico das coisas.
Escrevo um nome e nasce Dublin
porque Dublin escrevi.
Se onde ponho um traço nasce uma via de ferro
então é um comboio em direcção a Roma.
Faço uma cidade e vejo-me um néon
ponho um anúncio e nasce uma cigarretta.
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