A ENTREVISTA DE ESTRELA SERRANO AO PÚBLICO
É uma importante análise feita por Estrela Serrano, em entrevista de Adelino Gomes, tendo como pano de fundo a recente defesa de tese de doutoramento daquela (ver aqui) [para ver um pequeno vídeo (48 segundos) que fiz durante a tese de Estrela Serrano, carregue aqui].
Comparando o jornalismo num espaço de 25 anos (1976 e começos do século XXI), ela encontra mudanças, passando "Do registo factual para o registo analítico/interpretativo, com introdução da ironia e do anedótico. Nas imagens da televisão e nas fotografias tornam-se óbvias a displicência e o cinismo no estilo de reportar, que é um dos indicadores que uso, juntamente com os enquadramentos e os géneros jornalísticos". E, na cobertura das campanhas eleitorais, tema da tese de Estrela Serrano, ela vê a tendência interpretativa do Diário de Notícias transferir-se "para rubricas tipo «notas à margem», citações, até para as legendas das fotografias". Com o aparecimento de novos jornais, como Correio da Manhã (1979), O Independente (1988) e Público (1990), surgiram novos estilos de relatar as campanhas.
O estudo de Estrela Serrano permitiu-lhe concluir que RTP e Diário de Notícias não seriam, em 1976, dominados pelo poder político de então, como se costuma avaliar. Ela notou sim haver um predomínio de comunicados de partidos e da influência de fontes institucionais, o que desaparece em períodos posteriores, com o jornalista a cingir-se "muito mais ao universo da campanha". Pelo "afastamento em relação aos poderes", o jornalista procura a "objectividade, que muitas vezes envolve a displicência, o cinismo, a desvalorização da política e do papel dos políticos", enquanto se dá a "personalização do jornalista, que passa a assinar textos e cuja fotografia o DN publica, a partir de certa altura".
A autora estuda ainda a influência do poder económico, com o jornalista a oscilar entre dois termos: 1) preservação da deontologia, 2) legitimação das audiências.
1 comentário:
Parece-me verdadeiramente interessante o estudo a que este texto se refere!
Embora a comunicação social não seja a minha "área", gosto muito de ler sobre ela.
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