CISNEROS - A TELEVISÃO E OS MEDIA NA VENEZUELA
Gustavo Cisneros e o seu irmão Ricardo são figuras centrais no panorama mediático venezuelano. O pai, Diego, começara a vida empresarial com um autocarro, continuando, depois, com a concessão de engarrafamento da Pepsi-Cola. Em 1959, ele e os seus sócios da Pepsi-Cola da Venezuela adquirem um canal de televisão, a que poriam o nome de Venevisión.
Gustavo Cisneros era então um jovem a estudar economia nos Estados Unidos, indo depois estagiar para a televisão ABC (1968), onde conheceria os futuros presidentes da Walt Disney (Michael Eisner) e da Fox (Barry Diller). Regressado à Venezuela, tornar-se ia responsável pela Venevisión.
Para além dos refrigerantes e da televisão, a família acrecentava a rede de supermercados CADA, com 48 grandes lojas, facturando 300 milhões de dólares por ano e dando emprego a 2300 pessoas. A combinação supermercados CADA e canal Venevisión era uma plataforma de massificação de marcas. A dona de casa, que acompanhava a telenovela, o produto por excelência da televisão, conhecia as vantagens dos produtos vendidos no supermercado. Mas o peso da novela venezuelana alargava-se a um público vasto, sem ligação à idade e ao género.
Nem sempre os negócios dos Cisneros foram sucesso. Dos fiascos, elencam-se os seguintes: Pentacom, nos petróleos; Galerias Preciados em Espanha, compradas em 1984 e vendidas dez anos depois; prédios em Paternoster Square, em Londres. Ao mesmo tempo, a concessão do engarrafamento da Pepsi-Cola, o começo da grandeza financeira dos Cisneros, era vendida (à Coca-Cola), acontecendo igualmente a alienação da Spalding & Everflo (fabricante de bolas de golfe). A queda do banco Latino, onde os Cisneros tinham 3,5% do capital e o irmão Ricardo era o principal responsável, ditou ainda a venda dos mercados CADA.
Os irmãos mudavam o foco dos seus negócios, centrando-se nas telecomunicações e no entretenimento. Telenovela (Esmeralda é a primeira série a internacionalizar-se) e aquisição dos direitos da transmissão do concurso da Miss Venezuela trouxeram um novo retorno ao canal dos Cisneros. A televisão por satélite (Direct TV) afirmava-se como uma oportunidade de negócio para os irmãos Gustavo e Ricardo. E a aliança com a AOL trouxe a internet para a América latina, enquanto nascia a rede de cabo Galavisión.
Quase em simultâneo, a entrada na produção e distribuição de conteúdos televisivos tomava conta de maior interesse dos Cisneros, com a formação da Univisión, junto das comunidades hispânicas nos Estados Unidos. Em 1996, a empresa era cotada na bolsa, a 23 dólares, passando a 30 dólares no dia seguinte. Para além de televisão, a empresa tinha negócios em rádio, disco e internet. O segundo canal da Univisión é a Telefutura, orientada para públicos mais jovens, desejosos de maior programação desportiva. E nascia, na Venezuela, o ValeTV, canal de entretenimento cultural, em associação com a Igreja Católica.
Mau grado o afastamento dos refrigerantes, os Cisneros compraram uma marca de cervejas, a Regional, que ainda se mantém no portfólio de actividades como líder de mercado. Ao mesmo tempo, a equipa de basebol Leones del Caracas passava também para o domínio dos Cisneros.
Observação: esta é a biografia oficial da família Cisneros, em especial a de Gustavo, o líder do grupo. Não se notam críticas à família, mesmo em momentos de recuo nos negócios e articulando o pensamento de Cisneros com a melhoria de situação económica e cultural do país (ao contrário do livro 40 anos de rede Globo, aqui apresentado). Daí, frequentes referências à missão, à filantropia e às reuniões internacionais em que Cisneros faz prova de confiança na livre iniciativa e na democracia. O livro descreve ainda as relações dos Cisneros com os magnatas da comunicação da América latina, como Roberto Marinho, da Globo. Sobre Portugal, não há informações da relação de Cisneros à TVI.
Leitura: Pablo Bachelet (2004). Gustavo Cisneros: um empresário global. S. Paulo: Planeta
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